Pandora
22/01/2020
O ocapi (Okapia johnstoni), é um mamífero artriodáctilo nativo do nordeste da República Democrática do Congo na África Central. Embora o ocapi tenha marcas listradas reminiscentes de zebras, é mais estreitamente relacionado com a girafa. O ocapi e a girafa são os únicos membros vivos da família Giraffidae.*
Quando Selma sonha com um ocapi, alguém morre em 24h. Talvez um pouquinho mais. Todos os habitantes da cidadezinha localizada nas montanhas Wasterwald sabem disso. Quando o sonho acontece, todos se perguntam quem será a vítima e também se perguntam: “serei eu?” e então, durante o dia todo, cartas são escritas, segredos revelados, desculpas proferidas e, apesar de não serem supersticiosos, muitos deles se dirigem à casa da supersticiosa Elsbeth para saber se ela tem “algum remedinho contra uma eventual morte”.
Eu não sabia bem o que esperar deste livro, mas imaginei que ele pudesse ir na linha de uma comédia de humor negro. Que assim que o sonho acontecesse, a cidade viraria de ponta cabeça até à próxima morte e que várias delas fossem acontecendo ao longo da narrativa. Mas não. É muito melhor do que isso.
O começo pode parecer um pouco estranho e arrastado, mas é que talvez leve um tempo para a gente se situar na história e na narrativa entre real e fantástica. Chega uma hora em que o envolvimento é tão grande, que os personagens são velhos conhecidos e a gente torce para que Selma não sonhe mais porque não queremos perder nenhum deles.
O dia em que Selma sonhou com o ocapi é uma história sobre a vida, contada de um jeito muito peculiar. Há momentos estranhos, tristes, engraçados, embaraçosos e emocionantes... em dado momento, numa cena em que o oculista (para mim o melhor personagem, ao lado de Alasca) leva Luli, a narradora, para a escola - e talvez esta nem seja uma das horas mais marcantes do livro para a maioria - me vi chorando copiosamente, não uma ou outra lágrima discreta e emotiva, mas aquela enxurrada barulhenta que acontece quando alguma coisa que estava represada dentro da gente sai.
O dia em que Selma sonhou com o ocapi é uma narrativa sobre o amor. Sobre várias formas de amor. Sobre ir e permanecer; sobre cuidar e ser cuidado. E também sobre a morte, mas não a morte em si e sim o que fica e o que advém dela.
Um livro que é como um abraço.
“O cachorro estava cansado. Era muito cansativo reencontrar uma porção de velhos amigos, há muito tempo perdidos, que nunca tinham sido vistos antes.”
“O amor que surge marca tudo, como para dizer: “Agora isso não te pertence mais“.
- Você está confundindo as coisas, Luise - disse Selma -, isso não é o amor, é a morte.”
“- Agora nós estamos sozinhos - eu disse.
- Nenhuma pessoa está sozinha enquanto puder dizer nós - ele sussurrou.
*Fonte: Wikipédia.