Tati Iegoroff (Blog das Tatianices) 23/10/2019Melanie: uma guerreira brasileiraNão importa quantos livros eu leia, ainda me impressiono como, por vezes, livros tão curtos conseguem abordar diversos assuntos importantes ao longo de suas páginas. Com Melanie não foi diferente, ainda que, ao meu ver, fosse possível ampliar a história, aprofundando algumas das temáticas da obra.
Melanie nos conta a história de uma menina que tem exatamente esse nome. Ela vem de uma família humilde e seu pai falecera alguns anos antes, de câncer. O sonho dessa jovem era ser médica, mas todos nós sabemos que os cursos de Medicina são extremamente concorridos nas Universidade Públicas e absurdamente caros nas Particulares.
Apesar de estar bem distante de ter as condições que os jovens ricos tinham — como acesso às melhores escolas e cursinhos — Melanie sempre foi extremamente dedicada e batalhadora. Trabalhou para juntar dinheiro para pagar um cursinho, se inscreveu no Programa Universidade para Todos, se destacou entre os alunos do cursinho e teve a oportunidade de estudar em um grande cursinho pré-vestibular com 100%, devido ao seu desempenho.
E é por meio dessa história que Maxwell dos Santos nos fala sobre as desigualdades do sistema educacional, sobre o império dos cursinhos pré-vestibulares e, principalmente, sobre cotas.
E se esses três assuntos já nos dão muito pano para manga, há ainda mais um elemento que o autor incluiu em sua história: um acidente de carro causado por dois jovens extremamente ricos e irresponsáveis, que custou a vida de duas pessoas queridas e importantes para Melanie: sua prima e seu irmão mais novo.
E por falar no irmão mais novo de Melanie, mais um assunto que entra nas páginas deste livro: ele era portador de Síndrome de Down e, através desse personagem, o autor também fala sobre preconceito e discriminação.
O livro também começa com uma dedicatória que já me deixou arrepiada e totalmente curiosa por essa história que é daquelas que amo ler (e amo ainda mais quando são reais).
Apesar de ter gostado da premissa e mesmo da história em si, achei — como disse lá no começo — que o livro poderia ter se alongado um pouco mais, se aprofundando em alguns aspectos, ainda que o autor, ao falar das cotas, por exemplo, tenha trazido tanto a visão de quem precisa delas ou é a favor, como daqueles que se vêem “prejudicados” por elas.
Por vezes, achei a mudança de cenário meio brusca, assim como alguns saltos rápidos demais na linearidade da história. O modo como ela é narrada também é um pouco jornalística demais, direta, tirando um pouco da experiência de se ler a história de uma jovem contada realmente pelos olhos de alguém dessa idade.
Ainda assim, Melanie é uma leitura extremamente necessária. Um livro que nos faz refletir sobre algumas condições extremamente reais e tristes da educação brasileira e da luta de tantos jovens.
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