jota 07/10/2014Picolino mas perigoso...O sueco Par Lagerkvist (1891-1974) recebeu o Nobel de Literatura de 1951, sete anos após a publicação de O Anão, considerada sua obra-prima dentre uma produção artística dividida entre dramaturgia, ensaio e romance.
O Anão é sobre Picolino, sujeito verticalmente prejudicado, o bobo de uma suntuosa corte renascentista italiana, que narra, em forma de crônica, tudo o que vê, ouve e faz. E ele faz muitas intrigas e comete inúmeras maldades. Tanto que a obra de Lagerkvist é tida como um retrato exemplar da perversidade humana e uma exímia dissecação do mal, conforme a editora portuguesa do livro. Sua história começa assim:
"Tenho vinte e seis polegadas de altura, mas sou perfeitamente constituído e proporcionado, salvo no que respeita à cabeça, que é um pouco grande. Os meus cabelos são ruivos, em vez de negros como os da maior parte das pessoas, e além disso muito espessos e crespos; uso-os repuxados para trás nas fontes e ao alto da testa, que se evidencia mais pela largura do que pela altura. O meu rosto é imberbe; afora isso, parece-se com o de todos os homens. As minhas sobrancelhas unem-se. Tenho uma força física considerável, sobretudo se me encolerizo. Quando me obrigaram a lutar com Josaphat, alcei-o sobre as minhas costas, ao fim de vinte minutos, e estrangulei-o. Desde então, sou o único anão da corte."
E por aí vai. Maldosamente vai, brilhantemente vai.
Lido entre 02 e 07/10/2014.