regifreitas 01/09/2022
O INVENTOR DA SOLIDÃO (The invention of solitude, 1982), de Paul Auster; tradução Luiz Roberto Mendes Gonçalves.
Foi com a publicação deste livro que o nome de Paul Auster surgiu como um dos mais promissores autores estadunidenses na época. Hoje, Auster é um autor renomado, e considerado por muitos como um dos grandes nomes da literatura contemporânea do seu país.
O INVENTOR DA SOLIDÃO é dividido em duas partes. Em "Retrato de um Homem Invisível", Auster conta a história de seu pai, poucos dias após seu súbito falecimento, em 1979. Ao colocar em ordem os pertences e documentos do pai, ele vai resgatando a imagem desse homem, tentando dar sentido a sua existência. O pai sempre fora um estranho para o próprio filho, alguém cuja marca principal foi a da "ausência". Durante a infância do autor eles praticamente não tiveram contato - "ele saía cedo para o trabalho, antes de eu acordar, e voltava para casa muito depois que eu havia sido posto na cama". Mesmo quando estava presente, o pai dava a impressão de alguém que nunca estava realmente onde estava. É melancólica e tocante, e minha parte preferida do livro.
Já na segunda parte, "O Livro da Memória", o próprio Auster resgata suas experiências de vida, fatos que marcaram o início da sua trajetória como escritor. Logo após a morte do pai, há o término do seu casamento, do qual resulta, principalmente, a falta do convívio diário com seu filho, Daniel, o lado mais duro do divórcio. A solidão aqui é representada pelo próprio ato da escrita, a de alguém que passou boa parte da sua vida adulta sozinho, num cômodo, diante de uma folha em branco, criando histórias. É a parte, repleta de citações e referências a obras e artistas diversos, na qual Paul Auster destila toda a sua erudição.
Paul Auster já esteve entre meus autores favoritos; acompanhava com entusiasmo seus lançamentos. Mas com o tempo essas leituras foram ficando espaçadas; suas últimas publicações não me atraíram tanto. Entretanto, gosto muito dos primeiros livros dele, que foram também meus primeiros contatos com sua escrita. Este é um deles.
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P.S.: Este é dos livros mais antigos da minha biblioteca, ainda da época do Círculo do Livro, do qual fui assinante. Volto a ele muitos anos depois. Já era minha intenção relê-lo há algum tempo. Mas recentemente acompanhei pela imprensa sobre a morte de Daniel, o filho de Auster, aos 44 anos, em abril deste ano, após uma sucessão de tristes eventos familiares. Na mesma hora me veio a lembrança de como Paul falava com carinho do seu relacionamento com o filho, ainda uma criança de poucos anos na época da escrita deste livro. E ao relê-lo agora, principalmente nas passagens que tratam de Daniel, é inevitável uma ponta de tristeza por tudo o que aconteceu recentemente.