Djeison.Hoerlle 01/09/2023
Nota-se que esta avaliação um tanto comedida não destina-se à obra em questão, mas à minha experiência de leitura. Pois mesmo sendo um sujeito habituado a livros de maior densidade, ainda assim minha mente não foi o jardim suficientemente fértil para as ideias de Freire germinarem com sucesso.
Divido um pouco deste "fracasso" - e aqui atribuo este termo não tanto à experiência, mas às expectativas que eu tinha dela - com o autor, mas não como forma de crítica às reflexões e estudos apresentadas, mas, talvez, ao excesso delas. Na prática, estes excessos manifestaram-se devido à uma notória preocupação com catalogação, por parte do autor, a qual se manifesta pela criação ou articulação de palavras existentes, extraindo delas um significado que dialogue com a necessidade do discurso. Dado o caráter dialógico, presente não somente neste livro, mas em toda a filosofia do autor, não poderia encontrar solução mais alinhada com seu discurso. A dificuldade dá-se, no entanto, quando o autor, já naturalmente familiarizado com seus próprios termos, não apenas os utiliza para sintetizar suas ideias, mas para construir novas a partir deles, cuja assimilação, pelo menos para um cérebro academicamente cru como o meu, mostrou-se um grande desafio.
Há ainda algumas passagens que me causaram notória estranheza, como às eventuais exaltações às façanhas de Che Guevara. Não é como se não houvessem méritos nas incursões do revolucionário argentino, mas o fato de terem havido não muda o fato de que, em um livro cuja afirmação central consiste na ideia de que o oprimido deve desvincular-se do opressor sem, no entanto, aderir aos métodos deste - o que, no contexto da América Latina do Século XX, dava-se pelas armas - esta exaltação soa, no mínimo, hipócrita.
Acredito que os grandes méritos desta obra passem um tanto longe das propostas de ação de Freire - que, sendo franco, não são tantas - mas sim na clínica análise que faz, especialmente do sujeito bucólico: o camponês, o lavrador, o capataz, e todas as estruturas que regem sua relação com o poder - uma relação de submissão, ou, então de inexistência. Pois, como disse o próprio, "não há vida sem morte, como não há morte sem vida, mas há também uma "morte em vida". E a "morte em vida" é exatamente a vida proibida de ser vida." Olhar para os tais cuja voz jamais foi ouvida, e incentivá-los e instruí-los, na mesma medida que com eles aprende é, talvez, uma das mais notórias façanhas não somente pedagógicas ou políticas, mas, também, humanitárias.
Posso não ter entendido tudo que este livro quis dizer-me, mas garanto ter entendido os motivos pelos quais ele foi escrito, e pelas dores que deixaram nosso continente repleto de cicatrizes, esta compreensão torna-se ferramenta de compreensão, não somente da opressão social dos séculos passados, mas da que ocorre hoje e todas suas consequências.
Obrigado, professor. Por todos os livros que me ajudou e ainda ajudará a escrever.