Raphael Clezar 26/03/2024
Era uma vez...
Não conhecia nada sobre quando eu vi a sua capa, que imediatamente me vendeu o livro (capa importa, sim). Já estava com altas expectativas só por conta dela.
Infelizmente não achei que o livro correspondeu a elas. A narrativa mistura uma história de mistério com um "slice of life", o dia-a-dia, da protagonista, a sra. Dusheiko, tudo isso junto de um clima meio macabro e fantástico e muitas reflexões quanto aos animais, como os humanos os tratam, a maldade do mundo e astrologia.
Vi essas reflexões como o ponto mais centra do livro e sinceramente, achei tudo bem raso. Longe de discordar das ideias num escopo geral, mas como elas são abordadas e usadas pela narrativa são de um modo muito simples, muito "bom ou mal". É um tema e um assunto que parecem nunca serem desenvolvidos para além de uma base simples mas que tem repercussões complexas que nunca são confrontadas pelo livro. Senti muita falta de um aprofundamento da discussão que o livro apresenta.
O que salvou a leitura para mim foram os personagens e as interações nos seus cotidianos. Gostei de acompanhar a Dusheiko e seus resmungos levemente pessimistas que permeiam todo o livro, e como eles vão evoluindo ao longo da narrativa. Li que muitas pessoas se incomodam com as muitas pgs sobre a astrologia mas, como alguém que sinceramente possui zero interesse no assunto, achei bem divertidas de acompanhar. As amizades e como as relações da Dusheiko vão mudando ela foram as partes que eu mais gostei do livro.
Também achei interessante o clima da narração. Tem um mistério meio sobrenatural rolando em uma cidadezinha que parece ser um pouco separada do resto do mundo, onde o macabro parece se esconder até dar um bote fatal, que me lembra um pouco o clima do filme "The Wolf of Snow Hollow" (recomendo bastante). O enredo também segue um ritmo bem calmo: ninguém está particularmente com pressa pra resolver tudo, pelo menos é o que parece.
Mas todo esse tempo livre não vem sem seu custo. Achei que algumas partes do livro são um pouco monótonas e se delongam. Novamente, a autora é bem direta no que ela quer discutir, e são assuntos muito interessantes, mas eu senti falta de alguma reflexão mais profunda sobre o como fazer a coisa certa pode levar a outras situações ruins, e como alguns pensamentos nocivos vão muito além de indivíduos e estão enraizados no coletivo da sociedade (que é algo que o livro trata brevemente no seu fim).
Apesar dos pesares, recomendo a leitura se o livro pareceu ser interessante. Fiquei decepcionado, e duvido esse livro represente a autora no seu auge. É ok, e é uma leitura rápida e bem simples (digo isso como elogio!), mesmo que eu ache que tinha capacidade de ir um pouco mais além.