Pandora 25/05/2022Eu gosto de livros “de tribunal”. Em geral são calcados em questões criminais interessantes e me agrada acompanhar as tentativas de defesa e acusação de convencerem os jurados a decidirem a favor da parte que representam. John Grisham é um famoso escritor desse segmento, com mais de 300 milhões de cópias vendidas em todo o mundo, vários best-sellers e livros adaptados para o cinema. Ele sabe do que fala e escreve bem.
Aqui ele traz uma história ambientada no período pós Segunda Guerra, em que um conceituado fazendeiro do Mississippi, Pete Banning, herói de guerra, assassina o pastor de sua igreja e se recusa a falar sobre o assunto, ainda que isso o condene à morte. Pena de morte, racismo, machismo, são alguns dos temas pincelados aqui. Pincelados, não tratados profundamente. O grande mote é: por que Banning fez o que fez? E é o desenvolvimento até chegar ao motivo que não funciona.
O livro é dividido em três partes: a atual, quando o ocorre o crime, a da juventude de Pete e sua experiência na guerra e após a sentença, com as implicações que advém do crime para os familiares do acusado.
A primeira parte é a mais interessante, que trata do crime e do julgamento, da opinião pública e da reação da família e tem uma das cenas mais impactantes do livro, que fala por si só (da qual não discorro para não dar spoiler). A segunda é longa e um tanto maçante para quem, como eu, não aprecia relatos de guerra e embora tenha o seu valor histórico, não acrescenta nada ao mistério da narrativa. A terceira é a mais fraca, na minha opinião, repleta de situações comuns e cenas sem nenhuma importância, numa tentativa, talvez, de prolongar a ansiedade do leitor pela revelação final que acaba sendo uma decepção.
A família tradicional americana do sul dos Estados Unidos nos anos 40 é aqui supervalorizada por tratar bem os empregados negros e ter “trabalhado duro” há gerações para construir seu patrimônio; Pete é um cidadão exemplar que jogou a mulher num sanatório e impede que até os filhos tenham contato com a mãe; e os filhos não têm nenhum interesse em se dedicar para manter esse patrimônio, apenas em continuar tirando seu sustento dele ad infinutum. Não dá pra ter muita empatia por eles. No final, para mim, o grande personagem é o advogado que tenta tirar leite de pedra e ainda tem que lembrar dos honorários… rs…
Já li do autor o livro de contos Caminhos da Lei e me diverti bem mais. Um dia pretendo ler algum dos seus livros mais famosos, mas por enquanto já está de bom tamanho.