Senhores e Criados

Senhores e Criados Pierre Michon




Resenhas - Senhores e Criados


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Ronnie K. 12/05/2010

Quando o verbo Cintila e Arde!
Para se desfrutar integralmente de toda a força das brilhantes narrativas contidas nesse precioso volume há que se ter um razoável e prévio conhecimento da biografia dos retratados, os quais são pintores, uns mais, outros menos conhecidos: Van Gogh, Francisco Goya, Antoine Watteau, Piero della Francesca e Claude Lorrain. Todavia, que fique esclarecido de antemão, não são eles os protagonostas das histórias, e sim personagens obscuros e simplórios que de alguma forma conviveram ou cruzaram os caminhos desses célebres personagens. E de que maneira aqueles foram afetados pela misteriosa e mágica arte desses. E, importante frisar: toda a trama gira em torno também de reflexões sobre o valor da arte e o próprio fazer artístico. Em suma, é um livro de público alvo muito restrito, a meu ver. Entretanto se o leitor, fora desses pré-requisitos, é refinado, experiente e exigente encontrará aqui um raro e milagroso exemplo de prosa. O estilo de Michon até onde vai meu conhecimento é único. Sua abordagem do material literário, raro. O maior mérito desse procedimento é o jogo de especulações e conjecturas que ele lança sobre o escasso material de que dispõe. O que valoriza sobremaneira a utilização da imaginação, do sonho, do tom puramento romanesco em torno dessas obscuras criaturas. É como se o escritor nos convidasse a criar juntos a própria vida dos personagens e as insólitas situações por eles vividas. Numa linguagem densamente poética sem abrir mão da suave ironia em determinados momentos, sua prosa nos conduz ao que de mais encantado, emocional e excitante pode proporcionar um texto literário. Confesso que, numa atitude inédita pra mim, tive que interrromper a leitura diversas vezes, seja para sonhar um pouco, ou recuperar o fôlego, ou simplesmente aplaudir o Pierre Michon!

TRECHO:

"A cena é simpática e nos parece vir de um século mais antigo. Vasari não a menciona. Era antes do jantar. Ao longo do dia o campônio fora escorraçado dos diferentes ateliês da cidade alta, fora empurrado e humilhado, não parecia vir da Arcádia; as perneiras caíam sobre seus joelhos; usava um pequeno gorro de lã bem apertado acima das orelhas; era corpulento, as faces com aquele vermelho, fruto de se trabalhar do lado de fora em qualquer tempo e que é como a vergonha de se trabalhar do lado de fora em qualquer tempo. Podia ter 40 anos e exprimia aquela habitual mistura de estupefação e malícia exprimida pelo campo nos homens dele nascidos; resmungava na rua à cata daquele pintor sem tabuleta que em desespero de causa ou por pilhéria lhe haviam aconselhado consultar. Fazia frio; o vento que soprava de La Verna, das neves, engolfava-se no grande céu claro e embaixo fustigava os ombros daquele campônio, arqueando-o um pouco."
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