A perna de Sarah Bernhardt

A perna de Sarah Bernhardt Eduardo Chacon




Resenhas - A perna de Sarah Bernhardt


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Autora Dilma Barrozo 25/11/2019

A ausência que se faz mais que presente
Que belíssimo livro! O entrelace das histórias de Madame Bernhardt , Greta Garbo e um inspetor de polícia é de uma criatividade sem limites!! Salve, salve as marcas talentosas com que Eduardo Chacon, escritor, professor e cinéfilo impregnou essa história!!

"A perna de Sarah Bernhardt" é o primeiro e grande livro de um escritor nato , tenho certeza!
Pontuo, a seguir alguns dos aspectos que mais me chamaram a atenção:
* Por trás da linguagem aparentemente simples sobressai a presença de termos menos usuais que quebram a expectativa do leitor, ao mesmo tempo em que comprovam o conhecimento vernáculo do autor e sua habilidade linguística.
*A narrativa compõe um texto que eu nem chamaria de policial, mas de espiritual ou até de emocional, tendo em vista que o assassinato é apenas o mote para o desenrolar da trama.
*Os capítulos criam um ritmo compassado que vai acompanhando a trajetória de vida do inspetor, seu envelhecimento e sua paixão ( conotada aqui nos 2 sentidos).
*As referências ao longo da narrativa , sejam elas simbólicas ou não, são um prato para ser degustado lentamente .
Elas mostram o refinamento do autor e sua estreita relação de amor com a arte , em especial, com o cinema.
*As descrições, com detalhes que ressaltam a plasticidade dos espaços, trazem os cenários para dentro da história e valorizam a ambiência de tal forma que o leitor se torna um personagem dentro do filme!
*A confrontação de aspectos que se interseccionam como o material X espiritual, o ser X parecer, a sanidade X loucura , tem como foco a própria figura do Joseph e a sua visão personalíssima de Sarah Bernhardt. Madame sempre nos é mostrada através dele, com toda a pompa e circunstância, o que favorece uma atmosfera de suspense .
*O título é um achado! É a própria ausência que se faz mais que presente. Representa o foco no improvável para criar possibilidades e justificativas.
*É muito interessante a superposição de elementos da doutrina espírita, com uma visão mais romanesca que envolve vampiros e dráculas.
*A figura que o inspetor e outros veem ( ou imaginam ) sempre de branco com uma lamparina na mão, a sugerir um espírito, uma fonte de energia ou até uma assombração
não cria uma situação negativa ou aterrorizante, pelo contrário, evoca uma atmosfera de silêncio ou serenidade.
*O leitor é mobilizado pelo narrador com seu discurso atraente e sai caminhando com ele por uma Paris menos turística e cheia de cor local, a Paris das tripas!
* A segunda parte do livro, com mudanças de foco da narrativa e aparecimento de novos personagens, traz a família do inspetor, que atua como suporte emocional e cria vínculos para um final inesperado, que se torna um dos pontos altos do romance.
*Destaco, ainda a habilidade na criação de personagens com tantas nuances psicológicas, a começar pelo próprio inspetor e sua fragilidade emocional e, ao final, pelas atitudes da família: a irmã, vivendo em palpos aranha para não contrariar o irmão por conta de sua "neurastenia", o cunhado rude e uma jovem sobrinha aprendendo, como todos, a se comportar diante do tio e a viver sob tensão diante da proximidade da guerra.
Com certeza, um livro para ter outras leituras e ser novamente saboreado e aplaudido!
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