Tempos difíceis

Tempos difíceis Charles Dickens




Resenhas - Tempos Difíceis


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Rogério Simas 23/05/2020

Sátira
Uma história montada de forma a tornar visíveis as ridículas formas de viver na sociedade capitalista industrial inglesa do final do século XIX
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Nati 19/12/2021

Tempos difíceis foi meu segundo contato com a escrita de Dickens e uma experiência de leitura muito difícil de comparar com David Copperfield, não só pelo tamanho, mas também pela construção da trama, muito mais crítica.

Em tempos difíceis temos um núcleo de personagem que vai compôr a trama: 
Sr. Josiah Bounderby, o dono da fábrica local em que trabalha Stephen Blackpool, operário apaixonado platonicamente por Rachael, que vive com muita penúria, mas é considerado um "funcionário modelo". Sr. Bounderby é amigo do Sr. Thomas Gradgrind, pai de Louisa, o objeto de desejo do Sr. Bounderby e que sofre com a educação rígida de seu pai, um homem sem imaginação que quer matar qualquer espontaneidade em seus filhos, principalmente Louisa e jovem Tom que vão compôr suas próprias histórias também. Ainda vamos acompanhar Cecilia (uma filha de domador de cavalos circense) que acaba aos cuidados do Sr. Gradgrind e de sua educação eminentemente prática.

Coketown é uma cidade industrial do interior da Inglaterra, que abriga uma amplitude de pessoas miseráveis, cujo salário só lhe permitem ter o mínimo para sobreviver, Stephen  e Rachel são um desses trabalhadores miseráveis. E do outro lado da equação está a aristocracia representada pelo Sr. Bounderby e por Sr. Gradgrind e sua família. 

Aqui Dickens irá tecer uma crítica social nada sutil com sua forma sagaz de conduzir a narrativa nos envolvendo nos pequenos dramas de cada personagem e com essa variedade de personagens sem podermos apontar um principal,  temos vários pequenos dramas, que me envolveram e deixaram a leitura muito dinâmica e rápida. 

Eu amei o livro, mas não superou David Copperfield, que continua sendo meu amor literário. 

Eu gostaria de um final melhor, mais esperançoso, mas é bem mais verossímil como foi. Uma ótima porta de entrada para Dickens, escrito no século XIX e continua abordando temas que continuam atual.
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Gabriela Gonçalves 26/08/2021

Não funcionou muito para mim
Estava bem animada para ler esse livro. Seria meu primeiro contato com o autor e tinha gostado bastante da sinopse. Infelizmente, o livro não performou muito bem comigo e, se não fosse a leitura coletiva junto com a Mell Ferraz, provavelmente eu teria abandonado.

Mas vamos lá? O narrador do livro é o que mais se destaca no quesito pontos positivos. Ele é irônico, debochado e pontua muito bem as crítica em relação à sociedade da época. Nisso o Dickens acertou muito. Os personagens, por outro lado, não me interessaram muito e achei bem chatos. A leitura também foi um pouco complicada pois alternava entre partes muito fluidas e outras muito monótonas.

A verdade é que tirando as críticas pertinentes ao capitalismo e a industrialização, não vi muito propósito na história do livro. Achei o final bem ~meh~ e não gostei do fim de um determinado personagem. Confesso que agora estou com medo de ler outras obras do autor e me decepcionar. Talvez eu dê uma chance ao Um Conto de Natal, acho que talvez esse funcione melhor pra mim. Enfim, não foi uma leitura que eu amei fazer.
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Geublu 01/11/2020

Tempos difíceis
Ótima leitura e o mais importante como se trata da era vitoriana, em que a importância da ciência está em voga, a imaginação é sucumbida, a criação, a arte sofre danos. Uma tendência a uniformização de pensamento. O problema das classes sociais novamente assinalando que algumas vidas importam e outras não. Também assinala a condição das mulheres como mero objeto de troca, sem vida, cidadã de subida classe. Fácil leitura e muito aprendizado, você acaba se alegando aos personagens.
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Raquel 29/08/2021

Os tempos difíceis continuam difíceis
Escrito na Inglaterra da Revolução industrial. Inicia com um modelo de família, que educa as crianças de forma maquinaria, valorizando os números e fatos, ignorando o ócio criativo e a arte, o que obviamente trará repercussões nos adultos que se tornarão .
A cidade de Coketown (curioso o nome não?) Na qual a família vive também não deixa de ser um personagem, descrita com muita cinestesia, com seus horizontes cinzentos e fábricas com ?mãos? com condições precárias de trabalho.
A dicotomia entre o coletivismo e individualismo nas relações de trabalho também é um ponto muito abordado aqui.
E o autor, embora em 3a pessoa é onisciente , não deixa de ser um personagem descrevendo tudo com muita ironia e deboche.
Os tempos difíceis parece continuam difíceis não?
Amei!
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Analuz 24/09/2021

"Tempos Difíceis" foi uma leitura diferente para mim. Comecei não gostando e terminei adorando! E creio que muito se dê tanto pelo desenvolvimento do enredo quanto pelo sarcasmo do narrador, que, nada impessoal, tece os mais irônicos comentários.

Charles Dickens, de forma explícita, critica a educação britânica de sua época (que só se atinha aos fatos) e também o falso moralismo de quem pregava discursos meritocráticos. Com uma gama de personagens interessantíssimos, somos apresentados a pessoas ricas e pobres, indo do dono da fábrica até seu humilde operário. Também passando, é claro, pelos conflitos sociais representados pelos sindicalistas. Afinal, não seria Dickens sem uma pitada de julgamento ao sistema, não é mesmo?

"Tempos Difíceis" é um bom retrato da Inglaterra vitoriana, demonstrando as consequências da Revolução Industrial para a sociedade.


site: https://youtube.com/c/AnaluzMarinho
julianvaes 17/10/2021minha estante
Adorei a resenha, descreveu perfeitamente o livro!


Analuz 18/10/2021minha estante
Que bom que gostou :)




Edna 29/11/2020

Fatos
?TEMPOS DIFÍCEIS ? DICKENS?

"Não fui estimulada por ninguém, mamãe, apenas fiquei observando as fagulhas do fogo que se apagam e morrem. Elas me fizeram pensar como pode ser curta minha vida e quão poucas coisas posso esperar fazer enquanto ela durar."

2020 tem sido um marco na nossa história, embora trágico, sorumbático e de isolamento, por outro lado particularmente foi um ano de grandes leituras e esse é meu ultimo Dickens do ano e vem com  como sempre  com forte crítica social.

Romances politicamente escritos a partir do universo capitalista ele enxergava as desigualdades, injustiças e o descaso e em
Tempos Difíceis (tanto quanto os nossos),  as críticas contra o  liberalismo e o ideal do progresso que só visa o lucro e reduz as condições humanas roubando o direito de viver dos operários massacrados pelo poder e que  sobrevivem  às barbaries de uma vida escravizada sem vóz onde até o movimento que deveria apoiar é movido pelo sistema, ou seja ele não existe, ele apenas  coexiste na manipulação.
As ideologias se arrastam desde o liberalismo do Século XIX, aniquilando milhares de trabalhadores e até hoje onde os fortes engolem os fracos e a dor e exploracao dos pequenos  é o preço do sucesso dos poderosos que criam as leis que só valem para uma pequena parcela oa demais são esquecidos e varridos para embaixo dos tapetes "as camadas sociais"

Amo a narrativa leve,  mesmo trabalhando temas tão densos como a sorumbática vida desses personagens, uma história sombria onde quem tem visão não enxerga muito a nao ser a monotomia do futuro que os aguarda em meio às chaminés das fábricas vitorianas em meio às cinzas e o frio que sente que desvanesse o sombrio futuro.

Na escola o ensino tem o objetivo para que acreditem que A fantasia não existe ensine a essas crianças os Fatos, nada além dos fatos como um mundo distópico disseminando qualquer sentimento de prazer e tornando a vida sem sonhos.

" Na vida, precisamos somente dos Fatos. Não plantem mais nada, erradiquem todo o resto. A mente dos animais racionais só pode ser formada com base nos Fatos: nada mais lhes poderá ser de qualquer utilidade." 4/5 ? 70

#Bagagemliteraria
#Dickens
#CharlesDickens
#Temposdifíceis
#Bookstagram
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Exusiaco 11/02/2015

A narrativa bem construída de Tempos Difíceis, os seus personagens emblemáticos, símbolos de uma degradação operada por um vertiginoso desenvolvimento do capitalismo e da Revolução Industrial, do Racionalismo e do Positivismo, nada mais faz do que defender a fantasia e a imaginação contra a voragem de um mundo que cada vez mais ia se pautando em ciências exatas, fatos, estatísticas, tecnologia e outros bastiões matemáticos do progresso.

Dickens viveu na Inglaterra em pleno ápice da revolução industrial, estava no olho do furacão do capitalismo e teve a percepção afiada de detectar os graves danos e atropelos que o progresso, o lucro e a modernidade procedia sobre o grosso da humanidade em termos culturais e afetivos. O choque entre modernidade e tradição ia se traduzindo em domínio burguês, com a cristalização de um discurso hegemônico em prol do sistema industrial que urgia se reproduzir e se introjetar no inconsciente coletivo.

A história se passa na cidade fictícia de Coketown, feia cidade de carvão coque, onde as chaminés fluíam serpentes que não se desprendiam. Os reflexos sociais estão condensados, no caso do discurso positivista, em Tomás Gradgrind, onde tudo se reduzia a fatos mensuráveis, e no Sr. Bounderby, rico industrial e banqueiro, ocupações caras ao capitalismo burguês.

A exclusão atingia personagens símbolos da fantasia, do amor, da afetividade, da imaginação e da cultura, verificados no grupo de saltimbancos do circo de Sleary, taxados de vagabundos. Outro personagem dessa leva de excluídos é Stephen Blackpool, operário explorado que extrapolou a dicotomia patrão-empregado, não pendendo nem para o lado burguês nem para o lado de uma organização sindical que alvorecia. Nos dois lados ele enxergava restrição de liberdade e acabou relegado ao ostracismo.

A personagem Luíza, filha de Gradgrind, criada para a vida prática, demonstra emblematicamente que a vida não pode ser mensurada ou coisificada em prol de cálculos pragmáticos. Uma hora ou outra ocorrerá uma explosão de recalques dionisíacos acumulados em períodos esgotáveis e a coisa toda degringola para uma dimensão onde sentimentos mais profundos hão de ser admitidos.

Digna de nota é também a personagem Sissy, filha de um palhaço é abandonada por este na adolescência e é resgatada do mundo dos saltimbancos por Gradgrind. A intenção deste é educá-la rigorosamente nos termos práticos que a lógica capitalista exige. Sendo ela bruscamente subtraída de sua cultura, não se adaptou e nem pode se submeter a essa forma de criação indigestamente alienígena para ela. Sissy ainda teria uma função de grande relevância nos pontos mais conclusivos da narrativa

Dickens intuiu várias coisas que hoje em dia estão potencializadas, como por exemplo o discurso hegemônico neoliberal em que as escolas reproduzem a ideologia capitalista em niveis de "meritocracia" e "preparação para o mercado" e a exclusão de singulares elementos culturais com a indústria cultural que, via grande mídia, as dissolvem num grande bloco homogêneo e esteticamente fraco. Outro exemplo é a especulação imobiliária que incendeia favelas e expropria locais e galpões onde se pratica teatro popular de modo a sufocar genuínas e pulsantes criações artísticas de relevância cultural.

Logo no início da narrativa notamos algo que ecoa em Paulo Freire e sua concepção de educação bancária: "O orador, o mestre-escola e uma terceira pessoa adulta presente todos recuram um pouco, a fim de poderem contemplar melhor, no plano inclinado da sala, os pequenos vasos ali dispostos em ordem, prontos para receberem uma inundação de fatos".
Jossi 14/08/2016minha estante
E o marxismo cultural não pode deixar passar nada, nem um romance de Dickens onde emoções e sentimentos são exaltados. Para a mente esquerdista, tudo tem a ver com o 'monstruoso capitalismo'. Muito bem, vou ler o livro e resenhar depois. Veremos o que há de 'crítica social' (ou devo dizer, socialista?) no livro.


Exusiaco 15/08/2016minha estante
Se há crítica social não sei, só sei que esse tal "monstruoso capitalismo" foi bem escancarado, quiçá espontaneamente, nessas páginas.


Exusiaco 15/08/2016minha estante
Já vi que você meteu um cinco estrelas num Olavo de Carvalho. Felicitações Bolso-Trumpianas!


Jossi 26/08/2016minha estante
E vi que você mete umas mil estrelas em Paulo Freire e sua 'pedabobagia' do 'oprimido'. Quanta opressão, heim? Se alguém é capaz de chamar a deseducação de Freire de educação, não é de se admirar que existam tantos analfabetos funcionais nas universidades e que o ensino médio de hoje seja... bom, não tenha equiparação com o de nenhuma época, tal a péssima qualidade do mesmo. Tudo é permitido aos alunos, nada ao professor. O professor tem que se equiparar aos alunos... ou seja, ele não sabe mais. Então por que ele estudou tanto? Por que se dedicou tanto a aprender, debruçado sobre livros e apostilas, se ele é um belo NADA nas salas de aula?

Quanto a Olavo de Carvalho, óbvio que vou dar cinco estrelas. O homem é um dos maiores eruditos modernos. Se você acha exagero, te convido a ler pelo menos "O Jardim das Aflições".
:D




CrAsley0 12/09/2020

Um livro para se degustar!
É um livro para ser degustado lentamente.

A forma como Dickens constrói seus personagens é genial.

Vale a pena a leitura!
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Julia 09/09/2020

Clássico!
Simplesmente incrível! Um livro extremamente gostoso de ler, além de conter uma baita crítica social. Recomendo
Jade 09/09/2020minha estante
Que capa linda




Flavio.Vinicius 09/10/2020

Uma crítica ao liberalismo
Charles Dickens foi o romancista mais popular da Inglaterra do século XIX e escreveu uma literatura de forte crítica social. Elaborando seus romances a partir do centro do capitalismo, Charles Dickens via as desigualdades, injustiças e perversidades ocasionadas pelo sistema do capital. De tão popular, é comum ouvir-se que foi Dickens quem inventou o Natal com a publicação de A Christmas Carol (Um Conto de Natal) em 1843. Entretanto, o certo é que Dickens elaborou uma literatura em que as deformações do capitalismo são explicitadas.

Em Tempos Difíceis (1854), décimo romance de Charles Dickens, o autor traz duras críticas ao positivismo e ao liberalismo e apresenta como o ideal propagado pelo positivismo de distanciamento, neutralidade, distanciamento das paixões e redução da natureza humana a uma natureza numérica é não apenas inviável mas também pernicioso: retira o próprio sentido da vida. Dickens também critica o ideal de progresso presente no século XIX, um progresso afastado de justiça social e inteiramente permeado pela concentração de rendas e de poder. Quer seja por meio da narrativa, quer por meio das falas das personagens ou das intervenções do escritor, em Tempos Difíceis Dickens explora toda a falsidade da ideologia liberal, e assim o faz a partir do centro do liberalismo da época: a Inglaterra.

"Então o Sr. Choakumchild disse que me faria outra pergunta. Ele disse: 'Esta sala de aula é uma imensa cidade, e nela há um milhão de habitantes, e apenas vinte e cinco morrem de fome, nas ruas, no curso de um ano. O que você diria a respeito dessa proporção?'. E eu disse - porque não consegui pensar em nada melhor - que achava que a situação era ruim para os que morrem de fome, não importando se os demais fossem um milhão ou um bilhão. E eu estava errada novamente." (p. 74).

É triste perceber como estamos nos arrastando há séculos com ideologias que ainda buscam colocar a vida humana em segundo plano. No século XIX o liberalismo deixava morrer de fome centenas de milhares de trabalhadores; hoje o projeto neoliberal faz o mesmo, em nome de um pretenso "progresso" que é progresso para poucos, e é dor e exploração para a maioria.
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Wilson Jr 12/06/2020

Ele disse: ?Esta sala de aula é uma imensa cidade, e nela há um milhão de habitantes, e apenas vinte e cinco morrem de fome, nas ruas, no curso de um ano. O que você diria a respeito dessa proporção??. E eu disse? porque não consegui pensar em nada melhor? que achava que a situação era ruim para os que morrem de fome, não importando se os demais fossem um milhão ou um bilhão. E eu estava errada novamente.?
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thaw 29/08/2021

Uma obra que me conquistou MUITO no início mas que foi me perdendo aos poucos. Duas coisas que prenderam a essa obra: a primeira foram as questões ligadas à educação, logo no início do livro, em que o autor satiriza a forma de dominação imposta por uma escola que só ensina fatos e repudia qualquer indício de imaginação e criatividade. A segunda foram as críticas acerca da condição de vida dos trabalhadores dessa sociedade que vivem imersos em um lamaçal. Além disso, Dickens é incrível, eu adoro a escrita e a narração que ele usa em suas obras, sou uma grande fã das descrições do autor. Entretanto, o foco em vários personagens acabou me dispersando um pouco e eu não consegui me conectar tanto com a história que foi ficando monótona. Ainda assim, uma leitura incrível, genial e que vale muito a pena.
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Lucas 14/11/2020

Distopia pontual e elementos "novelísticos": Charles Dickens e seu variado talento narrativo
Quando um leitor, especialmente o de primeira viagem em se tratando do autor, tem nas mãos um livro do inglês Charles Dickens (1812-1870), é bom que ele saiba que as páginas nas quais ele irá debruçar-se trarão elementos comuns ao seu estilo reconhecível de escrever: traços de contos de fada, crianças órfãs, uma narrativa nostálgica e uma (s) reviravolta (s), por vezes previsível (s). Seu grande talento como narrador empregando estes e muitos outros artifícios o colocou num lugar só dele dentro da rica literatura em língua inglesa do século XIX.

Como todo grande nome da literatura do século XIX (século este que deixou à posteridade a maioria das grandes obras literárias produzidas pelo ser humano), Dickens se notabilizava por criar essa atmosfera lúdica que o definia soberbamente, mas também por abordar em seus escritos significativas críticas e ressalvas à sociedade britânica daqueles tempos, que com a Revolução Industrial (ocorrida entre o século XVIII e XIX), tornava o Reino Unido como a mais pujante nação em termos econômicos naqueles anos. Contudo, a crítica de Dickens, de uma forma geral, não era direcionada às questões econômicas, às hipocrisias que o "nascente" capitalismo gerava em termos de riqueza: o olhar crítico do autor se voltava mais fortemente a ocasiões e situações onde o que se questionava era a bondade humana, à capacidade do ser humano de perdoar, amar e compreender o outro, aos valores familiares, etc. David Copperfield (1850) e Grandes Esperanças (1860), suas duas obras mais conhecidas no Brasil, trazem consigo muitas evidências dessa sua crítica sutilmente humana.

De todas as suas obras, contudo, é Tempos Difíceis (1854) que se apresenta como a mais audaciosa delas em matéria de crítica social. Único romance de Dickens que não possui nenhuma linha se passando em Londres, narrado em terceira pessoa (em contraste às duas obras mencionadas acima) numa cidade ficcional (Coketown, que acaba espelhando os centros urbanos que foram surgindo na Inglaterra em função da Revolução Industrial e das necessidades de mão de obra dela decorrentes), o livro traz uma tônica social mais palpável, como a sinopse da ótima edição da editora Boitempo dá a entender: a narrativa critica as condições de vida dos trabalhadores e a discrepância entre pobres e ricos, entre outros pontos simbolizadores desta nuance crítica.

A história começa com o srº Thomas Gradgrind, um indivíduo em posição economicamente favorável, mas sem ser milionário, visitando os alunos de uma escola que ele ajuda a patrocinar, a escola do srº Choakumchild. Gradgrind tem três filhos, Jane, Tom e Louisa, esta última a mais velha, com cerca de 16 anos quando a história começa e que também frequenta a escola, assim como seus irmãos. Quem dá as cartas em Coketown é Josiah Bounderby, aparentemente dono de uma fábrica têxtil e banqueiro ao mesmo tempo. Personagem presunçoso e, sem rodeios, muito chato, ele é o antagonista numa narrativa em que não há protagonista (s) definido (s).

Dois personagens protagonizam as duas principais vertentes que a narrativa, em seu teor crítico, apresenta: a pequena Cecília "Sissy" Jupe, também aluna da escola do srº Choakumchild e filha de um malabarista do circo do srº Sleary; e Stephen Blackpool, honesto trabalhador da fábrica têxtil do srº Bounderby. Cecília acaba sendo usada como símbolo das críticas e do "ar nostálgico" mais recorrentes de Dickens em suas obras mais famosas: a inocência infantil em um mundo cruel, a vitimização (justa) dos pequenos numa realidade materialista, entre outros dilemas.

Já Stephen Blackpool traz consigo um tipo de crítica mais localizada que Dickens quis trazer, que é o olhar para os operários, para as questões práticas do absurdo desgaste sofrido pelos funcionários do setor têxtil (setor este que mais bem representava a Revolução Industrial) e para a necessidade de se estabelecerem regras justas na relação entre trabalhador e empregador (não, Dickens não foi um sindicalista, importante deixar isso claro, apesar de sim, ele abordar essa questão com um viés "apaixonado" em momentos bem pontuais por meio de outros personagens secundários). Blackpool não é um líder sindical, tampouco um grevista: em seu escopo surgem não apenas as degradações derivadas de toda a injusta relação de trabalho daquela época entre funcionários e patrões, mas também as contradições entre esses trabalhadores mais sindicalizados na busca por melhores condições de vida e de labor. Importante mencionar que Dickens não polemiza a questão: a essência daquilo que hoje se chama leis trabalhistas nasceu após a Revolução Industrial. Nada mais natural, portanto, que o Reino Unido também tenha sido o berço das discussões trabalhistas.

Esta crítica não é unicamente direcionada ao plano trabalhista: há um viés humano que Dickens, com seu olhar romanceado, explora ao retratar as pequenas dualidades existentes nas inter-relações dos personagens, baseadas em conflitos como método x prática, sabedoria x conhecimento, amor x razão, ciências humanas x ciências exatas, e por aí vai. Tudo começa na escola-modelo patrocinada por Gradgrind, que possui métodos rigidamente peculiares de ensino aos seus alunos. A rigidez e uma busca por padronização saltam aos olhos nas primeiras páginas, com um enfoque distópico até surpreendente para uma obra de Charles Dickens (se houvesse alguma evidência de que George Orwell (1903-1950) se inspirou nessa pontual abordagem, não seria exagero).

Se Orwell é lembrado aqui (na primeira das três partes de Tempos Difíceis, que oferece um foco maior nesse sistema rígido de ensino), outra referência, mais nítida, surge na mente do leitor: a música Another Brick in the Wall (1979), hino absoluto do rock progressivo da banda britânica Pink Floyd. A parte mais conhecida do refrão ("We don't need no education/We don't need no thought control [...] All in all it's just another brick in the wal") traduz em acordes vivos a atmosfera na qual as crianças de Coketown estão inseridas; até mesmo o clipe da música, conhecido pelo aspecto sombrio e amedrontador que causa, cria um pano de fundo preciso para esta atmosfera criada por Charles Dickens. Torna-se curioso também associar isso à realidade histórica universal: não é de hoje que um ensino padronizado, que desencoraja as subjetividades e o pensamento crítico nos alunos e que torna estes alunos os "tijolos no muro" da música citada, são desejos latentes de determinados segmentos da sociedade.

Mas Tempos Difíceis está longe de ser um livro politizado ou enviesado. Com efeito, a multifacetada mensagem social que ele traz está concentrada na primeira metade da obra. Após isso, Dickens usa o que ele tem de melhor: a habilidade narrativa singular, que prende o leitor por meio de mistérios, segredos ocultos (especialmente do srº Bounderby) e grandes reviravoltas, que, mesmo sendo previsíveis, não afastam o leitor em função da qualidade com que são descritas. O autor se apropria desta carga social para conceber o destino posterior dos seus personagens. Toma-se o exemplo de Louisa: sua educação rigidamente "orweliana" impacta significativamente na mulher que ela se torna. E os efeitos dessa formação, como se pode perceber, não são de todo positivos e Charles Dickens enumera todas as dificuldades que as crianças desprovidas de conhecimento subjetivo e emocional enfrentam na vida adulta. É esta a grande mensagem trazida por Louisa, que faz dela a personagem que mais se aproxima do protagonismo na narrativa.

Por conhecer bem os limites entre entretenimento e mensagem social, Dickens faz de Tempos Difíceis uma obra excelente, que mantém o alto nível de qualidade dos seus outros trabalhos. Com um título que poderia ser muito bem destinado a um livro contemporâneo dos dias atuais, ele oferecerá ao futuro leitor uma incisiva e pontual reflexão social com traços distópicos sem se desviar da sua típica ficção, marcada por uma ímpar habilidade narrativa, simultaneamente capaz de prender a atenção e emocionar.
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