Lucas1429 10/02/2024
Vale conhecer
Admirável Mundo Novo é um dos irmãos menores do pacote das leituras em distopias, com 1984 e Fahrenheit (o qual não li). Acho que é possível observar algumas semelhanças tanto em forma quanto conteúdo entre ambos os livros. Em média 1984 tem uma escrita mais maçante, mas o começo de admirável mundo novo é extremamente cansativo, exclusivamente expositivo e acho que perde a mão na criação de conceitos e nomes, até um tanto constrangedor observar algumas referências de toque ácido que tenta fazer, principalmente pelo fato de serem mal executadas.
Vejo no livro uma crítica sobretudo a tecnocracia e uma sociedade de 'hivemind', moldada pelos princípios de um comportamentalismo bizarro que aniquilou a cultura e as formas de existir para formar novamente aquilo que é civilizado ou não. Penso que aqui já temos uma oportunidade de pensar a respeito, o que torna alguém verdadeiramente civilizado ou selvagem, tendo em vista nossa própria realidade, não apenas pensando em algum futuro "assustador".
Também vejo uma tendência um tanto reacionária na maior parte das chaves de leituras deste livro, e acredito que tem razão para isso, porque ele trata como uma tragédia a morte do cristianismo e da cultura ocidental, e não das religiões, espiritualidade e cultura no geral, o que é uma pena, porque oportunizaria uma profundidade maior ao personagem do Selvagem além dele parecer um estereótipo de nativo com membro da opus dei.
O livro ganha bastante tração da metade pro final, onde há menos descrições, mais interações e desenvolvimento dos personagens principais e seus conflitos. O final é um tanto aberto, mas sinceramente é bastante compreensível, acho complicado se deliciar com as milhares de referências a Shakespeare no livro e simplesmente não conseguir processar o que acontece nas últimas cenas.
Uma leitura com peso e contribuição histórica que vale ser feita, mas eu admito que esperava um pouco mais. É um bom livro, entretanto.