Lucas 17/03/2024
Deus mata, indiscriminadamente, assim como nós
Acredito que meu primeiro contato com literatura gótica, motivado pela adaptação cinematográfica de 1994, e não poderia ter terminado a leitura mais satisfeito. Os enigmas sobre morte e vida, a culpa cristã que atormenta o protagonista durante séculos devido sua própria trajetória, e as relações tão complexas com os seres ao seu redor, vivos ou mortos como Louis.
o relacionamento dependente e abusivo construído pelo vampiro Lestat, que pratica desde a violência patrimonial às mais doentias manipulações psicológicas, é algo que te prende à ele como o próprio Louis, e que se intensifica com a chegada de Claudia, uma personagem igualmente intrigante e que ousa ser ainda mais complexa considerando seus dilemas sobre a incapacidade de envelhecer e ser pra sempre uma mulher num corpo de criança, devota e dependente de Louis como uma filha e também como uma amante, o que te confunde e desconcerta muito como leitor, a ponto de até agora eu não poder dizer que compreendo essa relação e o desconforto que me causava também me prendia as páginas.
As consequências deixadas pelas amarras feitas por Lestat na mente de Louis são muitas, essa relação doentia que os finca um no outro por toda a imortalidade. Todo o arco do Teatro dos Vampiros é uma obra prima também. As declarações mútuas entre Armand e Louis me deixavam boquiaberto, e a maneira na qual a autora retrata esses relacionamentos, que transcendem o romântico e as barreiras de gênero, é surpreendente e transgressor.
Vou passar um bom tempo obcecado por esse universo sedutor e obscuro, fascinado pela habilidade da autora em construir algo do tipo. Tudo é tão dramático e pessoal que se torna real num nível assustador. Será que a Anne Rice é humana mesmo?