O Negócio dos Livros

O Negócio dos Livros André Schiffrin




Resenhas - O negócio dos livros


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Michel 26/03/2020

GENÉRICO E POUCO INSTRUTIVO...
O escritor tcheco Franz Kafka afirmou que “um livro tem que ser como um machado para o mar congelado dentro de nós”. Quando reflito sobre isso, imagino que um bom livro precisa desbravar a fronteira da ignorância; aquecer o discernimento e expandir o saber “o mar” congelado do leitor.

É difícil pensar em como estou me sentindo após o término da leitura desse O NEGÓCIO DOS LIVROS. O título, quando somado ao subtítulo, parece explicitar com clareza o tema que será abordado: revelar a influência do corporativismo sobre o que estamos lendo, universo geralmente distante da ética e da coerência em suas relações. No entanto, terminei a leitura sem compreender exatamente que caminho o autor quis percorrer. Ou pensando sobre as palavras de Kafka: este livro não foi capaz de quebrar o gelo de minha ignorância sobre o assunto.

Não estou me sentindo enganado, propriamente, nem acho que o título fora meramente uma jogada de marketing (o título da obra em inglês é o mesmo). Por outro lado, o conteúdo parece não ter saciado minha fome de conhecer os bastidores do mundo editorial, mas apenas inclinou-se levemente sobre algo que imagino que todo mundo já saiba: igualmente a qualquer outro mercado, o negócio dos livros também foi engolido pelo capitalismo e seu escopo singular não é outro senão o lucro.

O autor André Schiffrin foi um respeitado editor nas décadas de sessenta e setenta, cujo universo particular girou em torno do mercado livreiro. Logo, pensa-se que um senhor calejado e imbuído de tanta experiência certamente possui muita história para contar sobre os bastidores desse mercado. Cria-se a impressão de que o cara vai fornecer luz nas trevas dos bastidores literários.

Mas não é exatamente isso o que acontece. O autor começa o livro fazendo um resumo do início de sua carreira, fala da ascensão e de como se tornou uma referência neste mercado. Em seguida, Schiffrin nos conta sobre o surgimento e o fim da Pantheon, empresa fundada por seu pai juntamente com alguns sócios no início da década de 1940. Então, passeamos por esse tema entremeando nomes de figuras que passaram pela empresa, as transformações que a solidificaram, os focos editoriais que a tornaram referência, etc.

Depois disso, a obra se concentra nas diversas fusões que aconteceram no mercado dos livros ao longo dos anos e que culminaram numa hegemonia absoluta de alguns poucos empresários, onde 95% do mercado pertencem a cinco grupos empresariais.

Os índices de cada capítulo pareciam insignificantes demais, logo a narrativa voltava seu foco aos muitos relatos de companhias gigantes engolindo tudo pela frente. Confesso que em certos momentos o autor parecia até um pouco nostálgico, tamanho era a quantidade de referências e nomes que pareciam fazer sentido unicamente a ele.

Também senti falta de uma figura essencial neste universo dos livros: o escritor. Aqui temos praticamente nada sobre esta peculiar personagem e sua ligação com as editoras. Há ainda um capítulo dedicado a falar sobre censura, mas também é feito de modo generalizado e quase não cita nomes ou trás referências.

Apesar disso, o livro é bem escrito, não é muito longo, o que não permitiu que as referências tornasse a leitura cansativa; apontou para o perigo dos monopólios e fez um delicioso encerramento em que o autor fala da importância desta plataforma chamada livro.

O NEGÓCIO DOS LIVROS é uma obra sobre a experiência de um editor que um dia foi poderoso. Revela sua ascensão e queda e dedica um capítulo exclusivo para exaltar seu novo projeto sem fins lucrativos, o que elevou ainda mais a pessoalidade do conteúdo. Não foi exatamente uma leitura desperdiçada, mas talvez faltou um pouco mais de coragem por parte do autor em revelar os reais entraves desse universo, conforme sua experiência. Ou quem sabe, um pouco mais de teor investigativo que nos ajudasse a vislumbrar este mercado cada vez mais ambicioso, sem um ponto de vista tão genérico e simplista.

site: Outras resenhas, visite a página: http://dimensaoreluzente.blogspot.com/
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lfcardoso 18/07/2010

Revelador e chocante
A obra não é apenas um livro de memórias, mas um retrato do atual mercado livreiro no mundo. As grandes corporações controlam a maioria das editoras. Isso é perigoso, pois a livre circulação de ideias fica comprometida. Acaba sendo publicado aquilo vai gerar dinheiro e não ataque os interesses dos capitalistas.
Devemos ficar espertos com as empresas espanholas e portuguesas que estão comprando editoras brasileiras. Se bobearmos, só haverá lixo nas prateleiras das livrarias.
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Aguinaldo 14/11/2011

o negócio dos livros
Apesar do título e da irônica apresentação à edição brasileira assinada pelos editores da Casa da Palavra, não acho que esse seja exatamente um livro de ensaios, onde são defendidos determinados pontos de vista ou idéias (como no caso, algo sobre o funcionamento do mercado editorial). Acho que o livro funciona como a boa autobiografia que é, isso sim. André Schriffin é hoje um sujeito de quase ointenta anos, foi editor poderosíssimo nos anos 1960 e 1970, na respeitada editora Pantheon, à época parte do grupo Random House. O que ele descreve em seu "O negocio dos livros" é a ascenção e queda da Pantheon, fundada por seu pai e alguns sócios ainda no início dos anos 1940, sua inserção nela ainda muito jovem, a transformação dela em uma referência na área (livros de política, economia, sociologia, educação), a história de seu afastamento forçado em 1980 e a criação da New Press, sua editora "sem fins lucrativos". Ao descrever a Pantheon ele fala dos hábitos de leitura, do papel dos livros e da livre discussão de idéias no século XX. Claro, há longas sessões onde Schiffin detalha o processo das sucessivas e agressivas aquisições pelo qual passou o mercado dos livros, até a configuração atual, onde cinco grandes grupos monopolizam 95% das vendas no mercado americano. Para o leitor curioso esses grupos são: Time Warner, Disney, Viacom/CBS, Bertelsmann e News Corporation. O que um sujeito pode acreditar ser uma editora é na verdade parte de um mosaico de marcas de fantasia, selos editoriais, que convergem à um conjunto pequeno de conglomerados. Como esses mesmos conglomerados controlam os demais segmentos midiáticos (jornais, revistas, radios, emissoras de televisão, cinemas, internet, publicidade), o controle das idéias é quase automático. Schiffrin fala basicamente de livros de não-ficção e do mercado americano, mas a situação da literatura de ficção e das editoras em todo o mundo não deve ser muito diferente. "O negócio dos livros" é muito bem escrito, informativo, objetivo e elegante, funciona como uma espécie de thriller literário. Schiffrin apresenta muitos dados brutos sobre o mercado editorial, exemplifica e apresenta sugestões para o futuro. Como o livro foi publicado originalmente em 2000 (e em 2006 em português), Schiffrin é prudente em avaliar o impacto da tecnologia digital na produção e comercialização dos livros, mas todas as afirmações que faz antecipam o que hoje percebemos claramente como realidade (discussões sobre autoria, a questão do copyright, do acesso a internet, da edição e distribuição on-line de livros). Bom livro. [início 11/11/2011 - fim 12/11/2011]
"O negócio dos livros: como as grandes corporações decidem o que você lê", André Schiffrin, tradução de Alexandre Martins, Rio de Janeiro: editora Casa da Palavra, 1a. edição (2006), brochura 14x21 cm, 184 págs. ISBN: 85-7734-023-6 [edição original: The business of books: How the international conglomerates took over publishing and changed the way we read (Verso books, New York) 2000]
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Tauana Mariana 20/08/2016

O monopólio
Apresentando o contexto atual do cenário do mercado editorial, principalmente nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha, Schiffrin (2006) relata que apenas cinco corporações controlam 80% dos livros que são editados nos Estados Unidos. Um de seus maiores temores é que as editoras e livrarias independentes tendem a desaparecer. Muitas editoras e grupos editorias estão sendo acoplados à grandes núcleos da indústria da comunicação, tornando-se apenas mais um caminho para o lucro. Quando as editoras começaram a serem vendidas, o objetivo de publicar obras relevantes foi sendo dissipado gradativamente em detrimento do valor que cada livro poderia gerar. O mercado editorial mundial mudou mais nos últimos 10 anos do que em todo o “século anterior”, constata Schiffrin (2006, p. 24). De editoras familiares e pequenas, o mercado passou a ser comandado por grandes empresas, tornando as editoras “fornecedores de entretenimento ou produtos de informação”. O editor ligado à vida cultural e intelectual torna-se um homem de negócios.
Uma das consequências da aniquilação das pequenas editoras e da busca apenas pelo lucro é o comprometimento da “bibliodiversidade” do mercado editorial. Prezando por seus salários, seus nomes e o lucro da editora, os editores passam a publicar “mais do mesmo”, colocando no mercado obras que possuem grande potencial de vendas – geralmente os best-seller ¬– ou que foram escritos por pessoas de renome, abstendo-se de publicar obras diversas, livros desafiadores ou autores desconhecidos. Exemplificando esta questão, J. K. Rowling teve seus originais de Harry Potter e a Pedra Filosofal rejeitados por mais de dez editoras. Quando enviou os originais do livro O chamado do Cuco sob o pseudônimo de Robert Galbraith, também foi rejeitada por duas editoras. Para incentivar que jovens escritores não desistam com as rejeições das editoras, J. K. Rowling publicou no Twitter suas próprias cartas de recusas. (ÉPOCANEGÓCIOS, 2016).
Outra consequência da busca pelo lucro foi o aumento exponencial do preço do livro nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha. Um livro que custava entre “65 centavos a 1,25 dólares” passou a custar cerca de dez dólares ou mais. Com o aumento, o lucro da editora estava garantido, mas muitas pessoas deixaram de poder adquirir uma obra. Ou seja, poucas pessoas comprando livros; poucas pessoas decidindo que livros serão comprados. Para Schiffrin (2006, p. 153), não há livre mercado ou livro competição no mercado editorial norte-americano, mas sim, “uma situação clássica de oligopólio tendente à monopólio”. Situação esta que não afeta apenas os Estados Unidos, mas o setor editorial do mundo inteiro, uma vez que as publicações de língua inglesa se tornam referências para outros mercados.
Bruno Oliveira 24/08/2016minha estante
Vi uma entrevista com esse autor e pareceu bem interessante. Acabei lendo até outros livros sobre história da leitura e coisas assim.


Tauana Mariana 01/08/2018minha estante
é bem interessante mesmo.




Leo 26/02/2015

Entre conflitos
O livro não é apenas um conjunto de memórias do autor, mas um relato de conflitos e interesses que envolvem o mundo editorial. A leitura, os saberes obtidos através de livros e a circulação do conhecimento tornam-se reféns de jogadas comerciais das grandes corporações.
E o resultado deste jogo? As decisões sobre o que será publicado e chegará até nós, leitores.
Após a leitura, é impossível enxergar um exemplar de livro com o mesmo olhar.
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