Resenhas - Espelhos de eva

Lindevania Martins 27/01/2020

Sharlene Serra e os Espelhos
"Espelhos de Eva" (Penalux, 2019), novo livro da escritora Sharlene Serra, é uma metaficção. Uma dessas obras que refletem sobre si mesmas enquanto objeto artístico e revelam seus mecanismos de tessitura, sempre relembrando ao leitor sua posição. Não por acaso que é recheado de poemas, como outro famoso romance, o Dom Quixote de La Mancha, de Miguel de Cervantes, que também apresenta vários livros dentro de si.
"Espelhos de Eva" também é um romance de aprendizagem. Ao apresentar um livro dentro de outro livro, no faz acompanhar o desenvolvimento de Bianka, de criança tímida e sexualmente abusada, a mulher adulta e senhora de si, formada no encontro com diversas mulheres que a inspiraram e a iluminaram em seus caminhos. Importante ressaltar que a autora, bastante preocupada com inclusão, nos apresenta uma multiplicidade de mulheres, com as quais cada leitora pode facilmente se identificar: jovem, idosa, com deficiência, heterossexual, lésbica, branca, negra, etc.
Como que para temperar tudo e exemplificar o poder da literatura ao adentrar em nossas vidas, acompanhamos Bianka pelos olhos de Eva, a protagonista do primeiro livro, leitora atenta e curiosa que se deixar transformar pela experiência da personagem e vai além: usando os episódios que lê como disparadores para a procura de seus próprios caminhos e para a ampliação de seus horizontes. Eva, leitora ideal, expande sua experiência de leitura ao pesquisar, a partir do percurso trilhado por Bianka, as vidas de outras mulheres e heroínas que contribuíram para a emancipação feminina. Nessa atividade, responde uma pergunta essencial para nosso tempo: de que forma a literatura pode nos transformar e transformar o mundo?
O caminho erótico faz parte do crescimento de ambas as personagens e se trata sobretudo de um erotismo de si: do prazer de conhecer suas zonas de intensidades e gostar daquilo que se é para poder chegar ao outro.
É ao lado de Eva que nos postamos. Nós, leitoras e leitores que a temos como modelo e espelho, que lemos a historia de Eva que lê a história de Bianka. Se Eva aprendeu tanto sobre si e o mundo penetrando no mundo de Bianka, o que nós, que temos o privilégio duplo de acompanhar Bianka e Eva nesse rico universo criado por Sharlene Serra, não podemos aprender?


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