Manteiga

Duas irmãs se reencontram no calor do Rio de Janeiro. Quando um idílico passeio de barco se revela uma verdadeira tortura, antigas desavenças são postas à prova e tudo caminha para um desfecho aterrorizante.

"Minha irmã veio antes de mim. Isso significa que quando eu nasci ela já estava viva há tempo suficiente para ter lugar cativo no coração dos meus pais. Era ela a rainha da casa, a criança para quem as visitas olhavam e diziam Que coisinha mais linda sem se importar com o fato de que ela, minha irmã, talvez ainda fosse minúscula demais para compreender o que se passava. Mas ela sabia. Sabia que os brinquedos podiam ser tomados só para si nas tardes de domingo, que o retrato da família feliz na sala era seu, que nada seria capaz de abalar a constelação Elisa.
Então um belo dia eu nasci e tomei para mim as fotos, os brinquedos e o centro de gravidade daquele universo contido num apartamento no oitavo andar de um edifício no meio da rua Barata Ribeiro. Eu, o caminho – ela, sem volta.
As coisas começaram a dar errado na minha vida muito cedo, mas admito que não por culpa exclusiva da minha irmã – Elisa era responsável: fosse na escola, tirando notas boas, ou indo ao mercado para adiantar o almoço do dia seguinte, lá estava ela, a pessoa certa na hora certa, a queridinha da família, e não havia nada que fosse capaz de abalar isso – só eu. Eu e meu parto complicado, minha mãe precisando aplicar as sessões de nebulização a cada dois dias, eu e minha vida cheia de problemas que finalmente conseguiram se converter numa pequena empresa de turismo. (...)"

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