Marajó

Marajó Dalcídio Jurandir


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Marajó (Ciclo do Extremo-Norte #2)





"Marajó, história do menino Missunga, ser que aos poucos assume, sem nenhum esforço, como se naturalmente, a condição proprietária de seu mundão marajoara, é escrita de ímpar maravilha verbal em retorno ao prazer do leitor." Amarílis Tupiassú.

Trecho da obra:

"Já o rio liso o enervava, o estirão da ilha defronte, a marcha de uma barraca noutra margem Dentro do açaizal. Seu pai era o dono daquele rio, daquela terra e daqueles homens calados e sonolentos que, nos toldos das canoas, ou pelas vendas, esperavam a maré para içar as velas ou aguardavam quem lhes pegassem a cachaça. Na cidade, longe da vila, quanta noite de champanhe, espremido do suor e do sangue daqueles caboclos, dos vaqueiros que fediam a couro e a lama ouvindo nos campos os tambores do Espirito Santo.

Invejava em certas horas o que os Salmões faziam na fazenda em Chaves; as brutas farras com caboclas, delegados de polícia, promotores de justiça, tabeliães, tesoureiros municipais e carne de novilha gorda assando na brasa debaixo das árvores. Missunga sentia-se como aquela tarde, oco e morno. A pequena igreja olhando o rio, o coreto, os banquinhos do largo, dois benjamins que Coronel plantara no dia da Pátria e os guris jogando pião. Em Paricatuba o mato dava-lhe um receio sem nome. Naquelas verdes espessuras estava a fatalidade, espiando entre os paus, assobiando com os quinquiós. Missunga apanhara no ar a grande palavra: Fatalidade, para explicar os champanhes, o surdo-mudo que o seu parente Guilherme explorava, a morte do garçon e as crônicas do Manfredo.

Dois guris, que se atracavam por via do pião, o atraíram.

Missunga, vivamente, gritou como sempre gritava aos seus cachorros:

- Êta! Isca! Isca! Ei! Isca!

A gurizada fechou o círculo.

- Golpeia, Pedrinho!

Missunga divertia-se. Seus gritos excitavam os guris que rolavam na poeira, sujos e escuros como porcos."

***
“Marajó”, em qualquer língua, é literatura brasileira. Mas não é apenas pela sua fidelidade ao ambiente que merece apreço: mas pela sua força descritiva, plena de verdade e de beleza, pela sua maneira de fazer viver a gente que povoa as suas páginas, pela realidade com que traduz os laços sociais que a dominam. Tudo isso é literatura da melhor espécie.”
- Nelson Werneck Sodré, historiador.

“ … Dalcídio Jurandir é um mestre telúrico.
Marajó é um belo romance, pois ninguém melhor do que Dalcídio Jurandir nos comunica a sensação de deserto, do lobo, do calor deliqüescente daquela imensa solidão de nuvens baixas e verdes malhadas que é Marajó. O estilo empolga, com as suas asperezas, seus regionalismos, suas soluções poéticas de um primitivismo expressivo, sua ausência de malícia.”
- Sérgio Milliet, escritor.

“ Marajó é um volume feito com a verdade cotidiana, com a paisagem exata, com as fisionomias possíveis da existência. E o seu melhor elogio para um etnógrafo.”
- Luís da Câmara Cascudo

Literatura Brasileira / Romance

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on 8/2/19


Segundo livro do ciclo do extremo norte de Dalcídio Jurandir. Unico que quebra a história e não trás Alfredo como principal. Uma história a parte dentro das 10 obras que formam essa coletânea. Só tenho a agradecer ao Dalcídio por ter escrito essa obra, perfeita, que mudou minha vida. Impactante do começo ao fim, mostra o homem do Marajó de uma forma tão profunda, que só alguém de dentro poderia nos trazer. As relações de poder são bem explicitadas dentro desse cenário escrito de forma ... leia mais

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André Fellipe Fernandes
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26/07/2019 21:56:46

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