Maria de Deus

Maria de Deus nos revela um autor que traz força e densidade numa prosa veloz e inteligente, o que nos assegura sua leitura como um exercício de prazer. Essa fluência percorre todo o texto e o elemento descritivo surge apenas em imagens que nos trazem a construção de um sentido, nos informando de paisagens e personagens como valores estéticos ou agregando tensão e suspense à linha narrativa.

A densidade fica por conta de uma estória onde a mulher é retomada em toda a sua força de fundadora do humano. Maria de Deus traz aos leitores a resposta do feminino ao deus que ao lhe atribuir, através de Eva, a responsabilidade pela queda do homem, tornou-se devedor de uma explicação a todas as mulheres. Como Maria de Deus elas têm carregado por todos estes séculos que se seguiram à expulsão do paraíso, o fardo desse papel que, diga-se, nunca foi uma escolha, mas sim uma imposição do divino. Luiz Vadico transforma essa explicação em uma redenção onde a própria divindade, pela revelação do prazer, assume a expiação de seu erro. Nesta obra o autor nos recoloca, no plano ficcional, à dimensão filosófica do erótico como o elo fundamental de nossa relação com a vida – vida que deixa de ser prazerosa no momento em que tomarmos nosso corpo apenas como matéria portadora de culpa e dor e não como fonte de prazer.

Salve Maria de Deus! Que as mulheres leiam a sua e(hi)stória.