Memórias de um Sobrevivente

De sua janela ela vê as coisas desmoronarem à distância,vê hordas fugitivas agitando-se em busca de segurança, de refúgio, a fuga de uma vida vã que se acha sempre em algum lugar adiante, longe da anarquia da cidade esmagadora onde as pessoas se amontoam em tribos agressivas e defensivas. Onde as plantas crescem tomando conta de tudo e os animais se multiplicam por toda parte.
Doris Lessing, festejada no The New York Times como autora de "uma fábula brilhante" com estas Memórias de um Sobrevivente, descreve seu romance como "uma tentativa de autobiografia", em ritmo de fábula e conto de fadas, mas fiel à velha tradição de que o salto de um contador de histórias para o fantástico só deve, segundo as regras, ser dado a partir do mais sólido terreno da realidade.
Ainda que a realidade, em tal caso, seja o dia-a-dia de daqui a alguns anos, em que a barbárie é a luta da sobrevivência - os homens, as mulheres, mesmo as crianças, de tal modo embrutecidas pela necessidade que se tornam mais combativas do que os ferozes e violentos adultos.
A narradora também observa a menina Emily, entregue a seus cuidados por um estranho que apenas lhe diz: "Tome conta dela. Está sob sua responsabilidade." E que desaparece em seguida. E ela vê Emily crescer e se transformar em bela adolescente já desgastada pelo mundo, que também é protegida por Hugo, misto de gato e cachorro, estranho e adorável animal cuja presença é fator dominante na história.