O trabalho sobre Michelet devia ser uma tese universitária. Saiu porém tão pouco acadêmico que virou livro. A escolha do tema revela a preocupação que seria constante em Barthes - a articulação do texto com a história, do homem escritor com a ideologia de seu tempo. Michelet (1798-1874) era um objeto ideal para esse estudo, por ter sido, ao mesmo tempo, grande historiador e escritor personalíssimo. Barthes aí encontrou seu método de trabalho e seu estilo crítico. Como ele diz na apresentação, este livro 'não é nem uma história do pensamento de Michelet, nem uma história de sua vida'. Seu objetivo era evidenciar, na obra do historiador, 'uma rede organizada de obsessões' e, assim, 'devolver a este homem sua coerência'. Seria apenas uma 'pré-crítica', porque ele via o método estrutural como uma introdução necessária mas não suficiente à crítica histórica. Mas diante deste Michelet revelado por Barthes, corpo vivo habitando uma escritura e lugar onde se cruzam as ideologias e os fantasmas pessoais, quem sente falta de outro tipo de crítica? Aliás o 'Diário Íntimo' de Michelet, publicado integralmente depois do livro de Barthes, confirmou inteiramente suas intuições.