Mimesis é obra de um homem que perde sua pátria e é obrigado a se exilar e se isolar. Em terra estranha, nas margens de uma Europa conflagrada pela Segunda Guerra Mundial, Erich Auerbach, sem um futuro à sua frente, para seguir vivendo agarra-se àquilo a que dedicou a vida, a literatura – que naquele momento ardia em fogueiras imensas em sua Berlim natal.
Em seu espírito descortina-se uma nova perspectiva, que ele quer compartilhar: a da representação da realidade na literatura ocidental. Como ele próprio afirma, o que aqui se apresenta é uma visão, jamais uma teoria fechada. Auerbach seleciona seus locais aprazíveis e não por acaso começa com Homero e a Bíblia, os dois pilares do Ocidente europeu. Dali até o farol de Virginia Woolf será uma longa, insólita e, como o tempo o provou, inesquecível jornada, de abrangência inaudita, da qual cada capítulo deste livro é um instantâneo, um recorte.
O mundo que originou esta obra já não existe mais. Aquela guerra também acabou, ainda que suas palavras de ordem continuem encantando seguidores, inclusive hoje. Mimesis também permanece – vital como no tempo em que foi escrito, resiliente como o leitor de todos os tempos e quadrantes –, reerguendo-se das cinzas da ignorância sempre mais uma vez, pois como afirma Edward W. Said, “seu exemplo humanista permanece imorredouro”.
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