Minha vida de homem

PHILIP ROTH surgiu nos meios literários dos Estados Unidos uns quinze anos atrás com a publicação de Goodbye, Columbus com a qual ganhou o Prêmio Nacional do Livro. Sua carreira, desde então, foi classificada pelo crítico Reynold Price como alarmantemente multiforme, já que cada livro novo caminhava firme e irrevogavelmente além do território anexado pelo anterior, e Anthony Burgess classificou Roth como "um romancista que nunca passa duas vezes dentro do mesmo rio."

MINHA VIDA DE HOMEM, o seu oitavo trabalho de ficção, conta a vida (real e imaginada) de Peter Tarnopol, um apreciado romancista norte-americano que esta obcecado com um assunto que não consegue dominar nem abandonar. São os desastrosos esforços para chegar a uma vida adulta masculina responsável e viril, especialmente no que se relaciona com o infeliz casamento que reduziu aquele acontecimento a uma verdadeira mascarada. Tarnopol quase só consegue pensar e escrever a respeito de seu fracasso. Minha vida de Homem não trata simplemente dessa obsessão já que é o seu próprio testemunho.

O Livro começa com duas partes escritas por Tarnopol nas quais os dados de seu sofrimento e humilhação são transformados pela imaginação naquilo que Tarnopol chama de "ficções úteis". Primeiro numa movimentada fábula cômica de um crescimento triunfante e depois numa triste história de uma masculinidade desperdiçada, Tarnopol conta as aventuras de Nathan Zuckerman, um alter ego de ficção cuja biografia apenas se relaciona com Tarnopol muito por alto, mas cujas preocupações com a masculinidade e a virtude podem ser encontradas no criador.

Na longa segunda parte do livro "Minha Verdadeira História", Tarnopol deixa de lado a ficção para escrever uma ingênua narrativa autobiografica. Ali, finalmente, ele descreve, nos seus mais penosos detalhes, as experiências que nas "ficções úteis" ele tentou transcender aus própria arte. Embora por vezes hilariante, as lembranças de Tarnopol a respeito de seu desastroso casamento e da separação são um triste relato de antagonismos sexuais e brutais choques humanos.

Em todo o livro de Roth talvez não haja nada tão violento como a batalha desabrida entre Tarnopol e sua mulher Maureen que, de forma alguma, abre mão do seu domínio sobre a vida dele, da mesma forma que ele, por sua vez, não consegue expulsá-la de sua imaginação. "Eu poderia ser sua Musa se, ao menos, ele o permitisse", escreve Maureen em seu diário. E aliás é o que ela realmente é, talvez sem o saber e mesmo contra a vontade de Tarnopol.

O movimentado e violento casamento de Tarnopol, que se originou de uma fraude e só terminou com a morte, é, nas palavras do marido, uma expedição tão arriscada quanto o foi aquela que o Almirante Byrd fez na exploração do Pólo Sul. A luta febril de Tarnopol para exorcizar o seu demônio, até mesmo com o auxilio de uma faca, se for necessário, leva-o ao tratamento psiquiátrico com um analista de Nova Iorque especializado em narcisismo e a uma ligação tipo Pigmaleão com uma tímida e indefesa viúva que lhe parece ser a antítese de sua mulher. E Susa Seabury McCall, rica e bem nascida, mas que, em suas próprias palavras, é masi "uma coleção de sintomas em lugar de um simples ser humano". Os temores e dúvidas despertados em Tarnopol pelo seu caso amoroso com Susan, e a traição imaginada por ele, de parte do Dr. Spielvogel, seu analista, combinam-se com o choque da morte violenta de Maureen para fazer com que ele se imponha uma "quarentena sexual" em uma colônia para escritores no interior de Vermont. Ali, afastado de todos os que lhe são mais chegados e com a literatura como tudo que lhe resta e a única coisa em que confia, ele novamente mergulha em sua obsessão.

Álvaro Pacheco - EDITOR