Moenda de silêncios, de Ronaldo Cagiano e Whisner Fraga, expõe os sonhos entrecortados pelas tentativas dos rapazes em vencer a batalha numa cidade toda feita contra eles. De um lado, a terra serena da promissão, terra do perdão, do outro, o sufoco, o vale-tudo, a agressão da ”cidade inconquistável” – os dois brasis.
O jogo alternado do tudo e do nada, que seria a história da própria peripécia humana, se encarrega de intensificar o processo de textualização, vertiginosamente, para adquirir o sentido incômodo de uma provocação em aberto. Os dois amigos são um substantivo coletivo. A perda, o vazio, o oco são instâncias metafóricas da interdição histórica. O não-ser dos rapazes do interior – o não-ser do Brasil? Podemos entender perfeitamente porque os personagens compartilham a obsessão na procura da dignidade.
Rubens Shirassu Jr. - Poeta, ficcionista e crítico literário