Mundo Barbie

Mundo Barbie Denise Duhamel


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Mundo Barbie





Quando jovem meus modelos inspiracionais se resumiam à minha Barbie mergulhadora, que eu fingia soldar cascos de navios cargueiros, e Buffy, a Caça-Vampiros. Amava os looks e a eficiência. É assim que crianças aprendem sobre cadeias de produção: sim, toda Barbie é um comentário sobre geopolítica. Aprendi com minha mãe – talvez, tenha sido Cher Horowitz, já não sei – que se minha Barbie soldava cascos de cargueiro, o fazia para garantir que outras chegassem aglutinadas em containers, especialmente aquele rosa, da Ocean Network Express; para isso, eu também poderia ter lido Mundo Barbie de Denise Duhamel.

Mas isso é só um lado da moeda, Barbies são multifacetadas, hoje vêm em diversas cores, talvez em diversos tamanhos, embora não tão diversos assim, afinal, é preciso manter o dinheiro circulando e a Barbie é a garota propaganda por excelência da bilionária indústria plástica (de todas elas, que são duas: a que produz plásticos e a que corta corpos). Lembrando que alguns chamam de procedimentos estéticos, ato que envolve um bisturi e a modelagem de corpos, Sérgio Buarque de Hollanda, de cordialidade. Barbies são cordiais – ou devem ser. Talvez cordialidade seja algo como desejar mesmo quando lhe arrancaram fora as genitálias em um procedimento estético: O clitóris e os pequenos e grandes lábios / seriam os próximos a desaparecer. E sua vagina / tinha sido costurada, depois que os ovários / foram arrancados. Para Barbie / era impossível parir. Inocentemente esfregamos as genitálias sem órgãos de Barbies e Kens, ou de Barbies e Barbies, sem saber que ela nunca precisou disso: uma troca de cabeças seria o suficiente, talvez, o fim do mundo – porque é ok ser ambiciosa também.

É assim que aprendemos sobre perversão e desejo aos 5, e sobre máfia, de novo, looks e eficiência. É tudo sempre sobre looks, neste mundo, especialmente a máfia. Portanto, Mundo Barbie, que saiu dois anos antes de Sopranos e dois anos depois de Toy Story, é uma das mais completas críticas ao governo dos corpos sob o capitalismo. Sigo montando meu guarda-roupa ao estilo Tony Soprano.

Júlia Manacorda

Literatura Estrangeira / Poemas, poesias

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