Nanquim sobre pele

Inspirado em um assunto que rendeu debate nas redes, o conto narra o episódio de uma garota que leva um homem para casa no primeiro encontro. Uma tragédia acontece e a culpa recai em quem não se espera.

"Estava solteira há quase um ano, mas era a primeira vez que usava o aplicativo. Morria de medo de se envolver com algum maluco, tanto que conversou com seu match fazendo todo tipo de perguntas até aceitar o convite para estar onde está, na mesa de um restaurante, girando um copo com uma vela dentro. Ele chega logo, sorrindo sem jeito. Não imaginava diferente, ele avisou que era tímido, e ela gostou disso, um homem reservado em tempos de vidas abertas. As fotos também não mentiam. É bonito, ou ao menos bonito para ela, e fica ainda mais interessante agora que fala, que se desculpa pelo atraso e pergunta como ela está, o que quer beber. Ela diz que um vinho. Também é tímida e precisa relaxar um pouco, se pudesse tiraria sua Uni Pin 0.3 da bolsa e começaria a desenhar agora mesmo sobre a folha de papel que cobre a mesa. É assim que sempre se acalma, mas não pode bancar a estranha. Pelo menos não nos primeiros minutos. Então pede ao garçom um vinho tinto em taça, porque ele diz que não bebe. Quando ela pergunta por que não, ele repuxa a boca para o lado e conta que entra muito cedo no laboratório, não gosta de trabalhar de ressaca, fica disperso, imagina se dou um diagnóstico errado, se deixo passar um câncer? Pode custar a vida de alguém. Ela gosta do que ele diz, chega a pensar: e não é que essa porra desse aplicativo arruma uns caras legais? (...)"

Contos / Romance