Movido pelo instinto de repórter, Ali Kamel, diretor de jornalismo da Rede Globo, começou a perceber que a política de cotas proposta pelo Governo Lula divide o Brasil em duas cores, eliminando todas as nuances características da nossa miscigenação. Ali constata, estarrecido, que, nesta divisão entre brancos e não-brancos, os "não-brancos" são considerados todos negros: "Certo dia, caiu a ficha: para as estatísticas, negros eram todos aqueles que não eram brancos. Cafuzo, mulato, mameluco, caboclo, escurinho, moreno-bombom? Nada disso, agora eram brancos ou negros. Pior: uma nação de brancos e negros, onde os brancos oprimem os negros. Outro susto: aquele país não era o meu". Com prefácio da socióloga Yvonne Maggie, uma das maiores estudiosas do assunto no país, o livro de Ali Kamel começou a se desenhar em 2003, quando ele passou a publicar, quinzenalmente, uma série de artigos sobre as cotas no jornal O Globo. Neles, constatava o sumiço dos pardos e dos miscigenados nas estatísticas raciais brasileiras. Apontava, também, para o fato de que o branco pobre tem a mesma dificuldade de acesso à educação que um negro pobre, levantando a hipótese de que o maior problema do país talvez não seja a segregação pela cor da pele - e sim pela quantidade de dinheiro que se carrega no bolso.