Como diz Gregório Bacic: “as fronteiras culturais e geográficas não querem dizer nada”, e isto prova o escritor Silvio Valentin. Nutrido com a objetividade e concisão, características típicas dos poemas haicais, de origem japonesa, o poeta transforma o cotidiano enriquecendo-o com os retoques da cultura.
Assim sendo, muito embora os haicais sejam a opção que enfatiza o cotidiano, e, também, a presença sensível da natureza, Silvio consegue sugerir, sutilmente, o nome de Shakespeare, combinando-o com o cotidiano, por meio de associações ligeiras, “Que Shakespeare não sabia de nada / Romeu e Julieta / É queijo com goiabada”.
Para o teórico Afrânio Peixoto, “os haicais falam de emoções, imagens, comparações, sugestões, suspiros, desejos, sonhos”, assim sendo quando Silvio versa, ele coloca os elementos do cotidiano, como instrumentos de mediação que “seguram’ e ligam a simplicidade com a profundidade “O mínimo na tigela / Um pouco de amor / Pra dividir com ela.”
Uma característica quase inerente e fundamental desta estrutura singular de poesia, é a presença da natureza, das imagens de passarinhos, de sol e de vento, que são, por sua vez, sintetizadas na estrutura metrificada dos haicais. Embora, em essência o natural esteja presente, nas formas cotidianas, mas também na vida contínua, apresenta-se um um desafio resumir a beleza das impressões no estreito espaço das três linhas, quem o consegue, é sem sombra de dúvida portador de um apurado olhar.
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