A insônia é uma lucidez vertiginosa que poderia converter o paraíso num centro de tortura. Qualquer coisa é preferível à vigília permanente, essa ausência criminosa do esquecimento. Naquelas noites infernais eu passei a compreender a inutilidade da filosofia. As horas de vigília constituem, no fundo, uma rejeição contínua do pensamento pelo pensamento, a consciência exasperada por ela mesma, uma declaração de guerra, um ultimato infernal do espírito dirigido contra si próprio.
Caminhar nos impede de esquadrinhar as perguntas sem resposta, ao passo que no leito somos capazes de ruminar o insolúvel até a vertigem. Eis em que estado de espírito concebi este livro, que para mim foi uma espécie de libertação, uma explosão salutar. Se não o houvesse escrito, eu com certeza teria posto fim às minhas noites.
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