O amanuense Belmiro

O amanuense Belmiro Cyro dos Anjos


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O amanuense Belmiro





Publicado em 1937, O amanuense Belmiro vem despertando enorme interesse da crítica e dos leitores, o que atestam suas inúmeras reedições e a extensa bibliografia a respeito do livro, produzida pelos principais críticos literários do Brasil desde sua publicação até hoje. São muitas as razões para esse sucesso, ainda que não se traduzam numa simples receita.

Uma delas, bem importante, é a alta qualidade da própria prosa, clara, clássica, apolínea, exata no senso de oportunidade para o diálogo intertextual com a alta literatura e para o emprego das palavras, com períodos bem encadeados e dosados, coisas não muito comuns entre nós. Esta prosa, também, se trama para o leitor na sua frente, dando ao objeto que se deixa conhecer - as anotações e as histórias que contam - uma mobilidade curiosa e bem interessante em termos de metalinguagem. Afinal, o narrador se propõe, no início, a contar as suas memórias, um livro sentimental, não um romance, mas lentamente o presente desliza para o primeiro plano e as memórias iniciais se transformam num 'esboço de livro' para, então, ele se tornar um 'diário', que cobre pouco mais de um ano - 1935 - da vida de um amanuense, Belmiro.

Desse modo, a natureza romancesca é duplamente ocultada nesse jogo de transformação de memórias em diário, tentando posicionar o leitor no lugar pretendido - no mais íntimo da vida do narrador, que é o próprio livro. Incapacitado de viver e de se entregar ao outro, o amanuense só adquire substância transformando-se em linguagem, só aí ele consegue inventar uma forma de fuga que o mantém vivo. O amanuense é um solteirão com 38 anos, que não se abala com a conjuntura e as agitações do país (a chamada 'Intentona Comunista') porque está completamente imerso em seu mundo interior, tentando encontrar uma saída para seus pensamentos e impasses.

A conexão entre esses dois aspectos - a sustentação de uma narrativa límpida, de um estilo clássico, por um lado, e uma história de um homem insignificante, por outro - só torna ainda mais pungente a decadência incontornável do solteirão e amanuense Belmiro, que até o final mantém resignado seu auto-controle. Irônico e cético, perdido no labirinto do pensamento e suas aporias, a todo momento encontrando o paradoxo, o patético e o insolúvel nas relações entre os homens, esse machadiano (inclusive na preferência pela divisão da narrativa em pequenos capítulos) só não se desespera ou se entrega à total descrença por conseguir forjar uma válvula de escape - manter um olhar poético sobre o a vida e o mundo.

Literatura Brasileira / Romance

Edições (6)

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Obra única de Cyro dos Anjos, O Amanuense Belmiro é um livro feito de capítulos curtos, como um diário, onde são descritas as inquietações do protagonista. Suas características peculiares colocam essa obra no cânone da literatura consagrada. Tem todo o apelo que teria uma obra machadiana, mas com mais brilho, mais otimismo. Fico a pensar se Cyro dos Anjos manteria o mesmo estilo se continuasse escrevendo. É no final, parece, que os livros se definem. O desfecho revela, de fato, ao que... leia mais

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Fernando
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