O segundo romance de Tabajara Ruas — O amor de Pedro por João (1982) — filia-se à tendência da narrativa brasileira (na passagem da década de 1970 para a década de 1980) de tematizar os anos da Ditadura, no regime civil-militar pós-64. Um romance sobre os golpes militares das décadas de 60 e 70, no Brasil e no Chile, e suas consequências para os brasileiros que exerciam atividades políticas de esquerda: a prisão, a tortura, o medo de serem descobertos na clandestinidade; a separação dos entes queridos, a queda dos pontos de encontro, o asilo político no exterior e a experiência dos anos de exílio; oprimidos e opressores em conflito, o revanchismo da guerrilha urbana, a expropriação e extermínio.
Lemos a triste história de Josias que, recém-saído da cadeia, sem casa e sem trabalho, é rejeitado pelo filho e alia-se a um casal de hippies, libertando pássaros em um desejo de liberdade: para viver e experimentar sentimentos de amor e ternura; ao invés de uma realidade de amores não correspondidos e sofrimentos: ciúme, medo e traição.
A revelação do valente Micuim, ao morrer em ação, de que era um infiltrado, um traidor. A obstinação de João Guiné em atravessar clandestinamente o Brasil de Norte a Sul para encontrar o companheiro Sepé. A caçada que Hermes empreende para liquidar "o Porco" (torturador famoso) e localizar o paradeiro da mulher a quem ama. O medo dos exilados brasileiros que haviam buscado abrigo e asilo político no Chile nos dias da queda de Salvador Allende em 1973.
[Na entrevista de Tabajara Ruas com Tatata Pimentel, Luiz Augusto Fischer & Sérgio Endler in "Autores Gaúchos / IEL", nº 27], o autor declara que teve muito cuidado (na criação d'O amor de Pedro por João) em não fazer depoimento pessoal das histórias que recolheu: '(...) eram histórias humanas, aventurescas e engraçadas; histórias de conteúdo dramático que dariam uma boa narrativa e foi pensando nisso que escrevi. (...) na hora da criação... no momento em que está escrevendo, o sujeito-escritor é uma pessoa absolutamente desligada do mundo real e está inventando um outro mundo. Ele tem um poder e está exercendo [esse poder de criação]'.
Com imaginação, ironia, ternura e alucinação, Tabajara construiu uma trama contundente e bem humorada e que fala de um tema caro aos que, assim como o autor, estiveram no exílio: a identidade. Tabajara Ruas, gaúcho de Uruguaiana, é escritor, tradutor e roteirista de histórias em quadrinhos, televisão e cinema. Participou dos filmes Kilas, o mau da fita, Anahy de las misiones e "O dia em que Dorival encarou a guarda" (1986).
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https://pt.wikipedia.org/wiki/O_Dia_em_que_Dorival_Encarou_a_Guarda
'(...) todo homem tem seu limite, e Dorival resolve enfrentar a tudo e a todos para conseguir o que quer. A história da luta desigual de um homem contra um sistema sem lógica e sem humanidade...
O Dia em que Dorival Encarou a Guarda (1986) é um curta-metragem brasileiro, dirigido por Jorge Furtado e José Pedro Goulart, com João Acaiabe e Zé Adão Barbosa. Roteiro de José Pedro Goulart, Giba Assis Brasil, Jorge Furtado, Ana Luíza Azevedo & Tabajara Ruas. A obra é uma adaptação do oitavo episódio do livro O Amor de Pedro por João, de Tabajara Ruas. A trilha sonora original do filme foi feita por Augusto Licks.
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https://www.youtube.com/watch?v=JoBc-eC5IZA
https://vimeo.com/528065414
https://www.youtube.com/watch?v=IPWBmWzuGZc
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