O BOBO e O ARCO DE SANT

O BOBO e O ARCO DE SANT'ANA Alexandre Herculano
Almeida Garrett


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O BOBO e O ARCO DE SANT'ANA


GRANDES ROMANCES UNIVERSAIS, vol. 10




Clássicos da Literatura Portuguesa -- "Na leitura paralela de 'O Bôbo', de Alexandre Herculano, e d'O Arco de Sant’Ana', de Almeida Garrett, procuram-se as relações que a ficção destes dois autores mantêm com a História. Quando surge o primeiro volume d'O Arco de Sant’Ana, em 1845, já a revista "O Panorama" se apresentava como um vasto repositório da ficção de natureza histórica que se ia escrevendo entre nós. |...| Com efeito, desde 1838, aí foram publicados muitos dos textos de Herculano, posteriormente reunidos nas 'Lendas e Narrativas'. Em cinco números do ano de 1841 apareceram fragmentos d'O Monge de Cister', e, durante o ano de 1843, saiu o texto completo de O Bôbo. O que com isto se pretende dizer é que, mesmo limitando-nos a uma só revista, neste caso O Panorama, e ignorando as traduções que, paralelamente à produção nacional, iam invadindo o mercado português, O Arco de Sant’Ana tem atrás de si um número considerável de figurinos e modelos que certamente justificaram muitas das críticas de que então foi alvo. |...| os textos prefaciais que Almeida Garrett fez anteceder nos dois volumes e nas duas edições do romance para "recordar a memória [del Rey] D. Pedro Cru açoitando por suas mãos um mau bispo (...) Hoje não é já só conveniente, é necessária a recordação daquele severo exemplo da crua justiça real... Hoje é útil e proveitoso lembrar como os povos e os reis se uniram para debelar a aristocracia sacerdotal e feudal". |...| A função didáctica e combativa da História e, por extensão, do romance histórico, assim como a exemplaridade do passado face a um presente que não satisfaz, estão presentes nestas palavras e não destoam radicalmente das relações que Alexandre Herculano sempre manteve com a História, quer como área de saber e investigação, quer como matéria ficcional. |...| Se é verdade que a transcrição de velhos documentos que um feliz acaso colocara nas mãos do escritor foi uma estratégia de veridicção da narrativa a que os românticos frequentemente recorreram, o tom e a insistência com que Garrett afirma a verdade da sua história — e a credibilidade das fontes que lha deram a conhecer — parecem-me cobrir de humor a referida estratégia, desvendando e sublinhando o jogo de ilusão de que a ficção se alimenta, jogo esse que, no contexto do romance histórico, ganha contornos ainda mais complexos. Bem mais inesperado é encontrar em Herculano, particularmente em O Bôbo, texto que tem vindo a servir de contraponto ao romance de Garrett, a referência a este mesmo jogo e a consciência de que a verdade do romancista difere da do historiador. E não é sem humor que o demonstra, ao afirmar, depois de se referir a certas circunstâncias da sua história: — “Coisa incrível, por certo, mas verdadeira como a própria verdade. Palavra de romancista!” |...| Mas, apesar de todas estas coincidências, e não contando sequer com as diferentes acções dos dois romances, uma enorme distância separa o modo como cada uma delas é conduzida: a mesma que separa Garrett da sensibilidade ultra-romântica de que Herculano se viria a tornar modelo. "O Arco de Sant’Ana" não se alimenta das situações-limite paroxísticas vividas pelas personagens de "O Bôbo", quase todas elas excessivas — tanto no amor, como no ódio. De facto, e ao contrário do que faz Herculano, Almeida Garrett não explora a crueldade ou a natureza demoníaca dos seus vilões, não insiste no aspecto medonho e tenebroso dos cenários, não coloca obstáculos à ligeira história de amor vivida por Gertrudes e Vasco. O texto do romance comprova tudo quanto se anunciam os prefácios e advertências que o precedem, fazendo-o muitas vezes de uma forma explícita, face a um leitor sabiamente seduzido através das constantes interpelações que lhe são dirigidas. É perante esse leitor, “amável” e “amigo”, “fino e perspicaz”,“benévolo” ou “conspícuo”, que o narrador aproveita para ironizar com os lugares-comuns do romance histórico e para manifestar a sua expressa vontade de transgressão às normas do género. |...| Antes de Garrett, já Herculano pensara e até mesmo já se atrevera a fazer humor sobre a relação entre a Ficção e a História. E também antes de Garrett, já Herculano não perdia de vista o seu leitor, com quem conversava, prestando diligentemente todos os esclarecimentos necessários à compreensão das épocas passadas, conduzindo-o no conhecimento de factos e personagens, e com ele “dialogando” sobre tudo — sobre a intriga que se vai urdindo, sobre o passado, sobre o presente e sobre o paralelo entre os dois. Mas aqui reside, segundo creio, a grande diferença, de que decorrem todas as outras, quanto à forma como os dois autores encaram e se servem do romance histórico: interessado em moralizar o presente e em revigorar o sentimento do orgulho nacional, Herculano ostenta o exemplo de um passado que idealiza, ao defender que “o drama, o poema,o romance sejam sempre um eco das eras poéticas da nossa terra. Que o povo encontre em tudo e por toda a parte o grande vulto dos seus antepassados”. Quanto a Almeida Garrett, é o presente que fundamentalmente lhe interessa e o ocupa". ["Garrett, Herculano e O Romance Histórico" por Maria do Rosário Cunha].

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07/03/2014 21:37:17

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