O Feiticeiro de Terramar

O Feiticeiro de Terramar Ursula K. Le Guin


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O Feiticeiro de Terramar


Coleção Argonauta nr 276




"A Wizard of Earthsea" de Ursula K. Le Guin -- A chamada American New Wave, que teve como figuras de vanguarda autores como Thomas Disch, Samuel R. Delany, Roger Zelazny, etc, é por muitos considerada como uma reacção à crise daquilo que se pode chamar a "ficção-científica mecanicista", perante a realização de muitas das suas previsões, nomeadamente no campo da exploração do espaço cósmico. A New Wave caracterizou-se, de facto, pela busca de novos estilos literários e também de novos assuntos - substituindo de certo modo a science-fiction pela speculative-fiction. Daí resultaram obras de choque como Camp Concentration, de Disch - uma história simbólica e filosófica sobre o desenvolvimento da inteligência humana através de uma droga extraída da bactéria da sífilis. No entanto, a expansão deste movimento literário foi muito prejudicada pelo abuso do jogo de palavras - e, por vezes, de ideias - intraduziveis ou muito dificilmente compreensíveis noutras línguas e culturas. No fim dos anos 60, a New Wave - de leitura difícil, mesmo na língua inglesa, dada a sua forte carga de surrealismo - acabou por se tornar uma sub-categoria da SF, e a rebelião por ela anunciada extinguiu-se. Tudo quanto dela ficou foi uma perspectiva mais larga, uma maior aceitação de temas até então ignorados ou desprezados. Um desses temas é o da feitiçaria. Até à década de 60 - até ao aparecimento da New Wave, ninguém considerava como de SF uma novela em que a feitiçaria ou a magia tivessem um papel importante ou dominante. Mas hoje já não se pensa assim, o que explica que autores como Randall Garrett e Cliford D. Simak o tenham escolhidos para algumas das suas obras. No entanto, será dificil dizer que "O Feiticeiro de Terramar" versa também o tema da feitiçaria e da magia. Só na aparência isso acontece. A realidade é outra -- a sua autora, Ursula K. Le Guin, pela primeira vez traduzida na nossa língua, foi um dos elementos mais importantes da New Wave e é hoje um dos maiores nomes da SF. O Feiticeiro de Terramar (A Wizard of Earthsea) é a primeira obra da célebre "Earthsea Trilogy", uma descrição maravilhosa e extremamente meticulosa de um mundo diferente, em que os valores mais íntimos - mais humanos -são focados de uma maneira sem igual.
Acrescente-se que Ursula K. Le Guin, longe das experiências estilísticas dos outros membros da New Wave, usa uma linguagem fácil embora magistral - afirma-se hoje que ela, em matéria de qualidade, é a "pedra-de-toque" da SF. Por isso, muito embora quando da sua publicação, em 1968, A Wizard of Earthsea fosse apresentado como uma novela juvenil, certo é que esse carácter foi desde logo ignorado, e o mesmo aconteceu com as outras obras da trilogia - The Tombs of Atuan (1971) e The Farthest Shore (1972).
No entanto, a Trilogia de Terramar foi apenas o começo de uma carreira que se pode considerar sem igual. Já em 1969, em The Left Hand of Darkness, Le Guin mostrara a sua capacidade para tornar a SF num autêntico instrumento de intervenção social. Em 1972, essa tendência definiu-se com uma pequena novela de grande impacto: The Word for World is Forest, uma denúncia da exploração imperialista em torno da descrição de uma cultura alienígena, fascinante, em que o sonho tem um papel determinante, pois é considerado como tão válido como a realidade.
Em 1974 surgiu a obra máxima de Le Guin: The Dispossessed. Tendo por subtítulo Uma Utopia Ambígua, é a descrição de uma sociedade anarquista - e é uma obra perfeitamente integrada na corrente tradicional - científica - da SF. The Dispossessed obteve os prémios Hugo e Nebula. Não vulgar que uma obra consiga obter os dois prémios, mas mais raro ainda é que isso aconteça pela segunda vez a um mesmo autor: Ursula Le Guin obtivera cinco anos antes os mesmos galardões com The Left Hand of Darkness! Dito isso, tudo estará dito.

Introdução: (reproduz com ligeiras diferenças a súmula)
A chamada American New Wave, que teve como figuras de vanguarda autores como Thomas Disch, Samuel R. Delany, Roger Zelazny, etc, é por muitos considerada como uma reacção à crise daquilo que se pode chamar a "ficção-científica mecanicista", perante a realização de muitas das suas previsões, nomeadamente no campo da exploração do espaço cósmico. A New Wave caracterizou-se, de facto, pela busca de novos estilos literários e também de novos assuntos - substituindo de certo modo a science-fiction pela speculative-fiction. Daí resultaram obras de choque como Camp Concentration, de Disch. No entanto, a expansão deste movimento literário foi muito prejudicada pelo abuso do jogo de palavras - e, por vezes, de ideias - que tornava intraduzíveis ou muito dificilmente adaptáveis as obras por ela produzidas. No fim dos anos 60, a New Wave - de leitura difícil, mesmo na língua inglesa, dada a sua forte carga de surrealismo - acabou por se tornar uma sub-categoria da SF, e da rebelião por ela anunciada ficou apenas uma perspectiva mais larga, uma maior aceitação de temas até então ignorados ou desprezados. Um desses temas é o da feitiçaria. Até à década de 60, ninguém considerava como de SF uma novela em que a feitiçaria ou a magia tivessem um papel importante ou dominante. Mas hoje já não se pensa assim, o que explica que autores como Randall Garrett e Cliford D. Simak o tenham escolhidos para algumas das suas obras. No entanto, será dificil dizer que O Feiticeiro de Terramar tenha também por tema predominantemente a feitiçaria e a magia. Só na aparência isso acontece. A realidade é outra - a sua autora, Ursula K. Le Guin, pela primeira vez traduzida na nossa língua, foi um dos elementos mais importantes da New Wave e é hoje um dos maiores nomes da SF. O Feiticeiro de Terramar (A Wizard of Earthsea) é a primeira obra da célebre Earthsea Trilogy, iniciada em 1968, completada com The Tombs of Atuan, em 1971, e The Farthest Shore, em 1972. A trilogia, destinada inicialmente ao público juvenil, acabou por se tornar num dos grandes clássicos da nova SF - nomeadamente pela descrição ímpar, em linguagem clara, mas muito rica, do estranho mundo de Terramar, um arquipélago vivendo na noite dos tempos, em que as dimensões humanas atingem uma amplitude e uma profundidade poucas vezes conseguidas em qualquer tipo de literatura.
Importa dizer que a Trilogia de Terramar é apenas o princípio de algo ainda maior - muito maior. Em 1969, com a sua segunda novela -- "The Left Hand of Darkness" - Ursula K. Le Guin obteve os prémios Hugo e Nebula. A sua capacidade de tornar a SF num autêntico instrumento de intervenção social acentuou-se em 1972 com uma novela pequena, mas de grande impacto: The Word for World is Forest, uma denúncia da exploração imperialista, num mundo em que existe uma cultura fascinante, na qual o sonho tem um papel determinante, pois é considerado como uma forma de realidade. Em 1974 surgiu a obra máxima de Le Guin: The Dispossessed, que tem por subtítulo Uma Utopia Ambígua e é a descrição, muito cuidada, de uma sociedade anarquista, integrando-se todavia perfeitamente na corrente tradicional - científica - da SF. The Dispossessed obteve também os prémios Hugo e Nebula. Não é de modo nenhum vulgar - pode-se mesmo dizer que é único - o facto de um autor ver duas das suas novelas receberem os galardões máximos da SF, e isso explica que se diga que Ursula K. Le Guin é hoje a "pedra-de-toque", o padrão máximo de qualidade - de tal género literário.

===[Nota]: a saga de Ged, o jovem feiticeiro, acompanhou-me durante toda a minha infância e juventude. Este livro e os dois que se seguem na saga, Os Túmulos de Atuan (nº 284) e O Outro Lado do Mundo (nº 293), foram talvez os livros que li mais vezes da Colecção Argonauta. Tenho sempre saudades desta saga e releio-a sempre com imenso gosto. Posteriormente, foram lançados pela Ursula K. Le Guin um 4º livro e depois um 5º que revisitam a saga, mas que ainda não li. Sinceramente, até tenho medo de os ler. Estes três livros formam um conjunto perfeito. E por vezes não se deve mexer no que é perfeito. Também me questionei algumas vezes sobre se a J.K.Rowling não se terá inspirado neste livro (ou na série dos "Mundos de Chrestomanci" de Diana Wynne Jones) para criar a história de Harry Potter.

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on 8/12/21


Esse livro é muito bom, gostei muito de acompanhar a jornada do Gued. O Gavião é um personagem que me cativou muito. Forte, corajoso, poderoso, habilidoso... Entretanto muito orgulhoso, e seu orgulho traz graves consequências. Outro personagem que gostei muito foi o Vetch, um amigo verdadeiro, leal, disposto a ajudar e enfrentar o que for por seu amigo, muito cativante. Esse livro só não foi um 5 estralas pra mim porque senti que falta aprofundamento em algumas partes, o livro seria me... leia mais

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orffeus
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