Neste livro, Rafael Argullol nos apresenta ´a encenação plástica da idéia do fim do mundo´. Erigindo um cenário ensaístico do mais alto nível narrativo (e investigativo), ele utiliza interpretações que integram fatos históricos e personagens de ficção. O relato de Argullol é tecido por sucessivos episódios que configuram uma história com sete grandes protagonistas: Prometeu, o herói de Ésquilo, e com ele o mundo da Tragédia grega; João de Patmos e a herança profético-messiânica expressa no Apocalipse; Fausto, como como símbolos que escapa do domínio de seu criador, Goethe; Hitler e seu sonho de arquiteto: o físico Robert Oppenheimer e o cogumelo atômico, ícone maldito de nossa época. Mas a figura chave que abre e fecha o ´espetáculo´, é Io, filha de Ínaco. Quase desconhecida na modernidade, ela foi muito ilustre na Antiguidade. Após ser possuída por Zeus, foi severamente castigada pelos céus e transformada numa linda vaca, picada eternamente por um moscardo, o que a obrigava a fugir em peregrinação interminável, de sentido indecifrável para ela, até encontrar justamente Prometeu.
Livro de múltipla leitura, é uma reflexão filosófica, uma empolgante simbiose entre Arte e História, Cultura e Ideologia. Mas aos ´amantes do fatal´, aos ´profetas do Juízo Final´, o autor adverte: apesar do teor, não é um ´texto apocalíptico´. É um questionamento dos ´grandes ideais´ que, através de seus símbolos e mitos, ´envenenaram o ar que nos coube respirar´.