O governo dos povos foi primeiro um colóquio realizado em Paraty em 2005, com acaloradas e importantes discussões acadêmicas. Dessa forma, há alguns anos, a historiografia brasileira vem revendo e revalorizando nosso passado colonial – enquanto alguns historiadores priorizam as dimensões administrativas e políticas, outros revelam a importância cultural e religiosa do período.
As análises dos historiadores que compõem O Governo dos povos desprovincializam a história brasileira, colocando-a num contexto mais amplo e relacionando-a com diferentes partes do mundo português, como a África ou a Índia. Assim, as diversas tendências que integram o debate historiográfico brasileiro e português estão lado a lado neste livro organizado por algumas das maiores historiadoras brasileiras, Laura de Mello e Souza, Júnia Ferreira Furtado e Maria Fernanda Bicalho.
Neste livro, as múltiplas visões sobre o nosso passado colonial se apresentam de forma candente e apaixonada, resultado do colóquio em que essas discussões apareceram, trazendo à tona um dos mais ricos debates historiográficos dos últimos tempos. Ainda que as diferentes visões sobre a história colonial brasileira sejam contempladas neste livro, um conceito-chave se sobrepõe aos demais: a ideia de império. Ideia esta resgatada dos estudos do historiador inglês Charles Boxer (1904-2000), que via o mundo português da época moderna como um todo, um império que espalhava missionários, inquisidores, comerciantes e funcionários por instituições pensadas e colocadas em funcionamento pela Coroa em Lisboa.