Um talentoso cronista se impõe a tarefa de escrever o grande romance brasileiro, mas nem tudo sai como o planejado.
"Em 1964, Ivan Zelinski tinha muitos cabelos, uma tênue barriga de chope e um emprego de cronista no Jornal do Brasil. Era considerado a grande promessa da geração, aquele que escreveria o romance brasileiro da década. Chegava nos bares e era recebido de braços abertos por amigos que diziam gênio, passava na rua e as pessoas sussurravam gênio. Os pais de Ivan eram judeus poloneses que imigraram por causa da Grande Guerra. Chegaram com poucos pertences e muita cultura, assimilaram o português com a facilidade de quem aprende a assoviar. Depois de alguns meses no Rio ele foi contratado como diretor da FioCruz, enquanto ela se tornou uma dona-de-casa aparente – lavava, passava, limpava e cozinhava, escrevia poemas, pintava aquarelas e dava aulas de polonês e inglês. Ivan cresceu em uma casa de cortinas baixas e 30 mil livros na rua Paul Redfern. Tinha lido todos os russos e todos os franceses, era íntimo dos lançamentos americanos e mais de uma vez citou um italiano, espanhol ou alemão que parecia inventado, mas se mostrava real na pesquisa de dia seguinte, feita pelos mais invejosos. Era tradutor de Shakespeare e Dostoievski, mas seu grande feito foi a tradução de Grande Sertão Veredas para o carcereiro da Base Aérea do Galeão, onde ficou preso por um mês depois do golpe militar. O crime foi escrever uma crônica que continha num mesmo parágrafo as palavras militares e brutamontes, acéfalos e orangotangos. (...) "
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