A partir da generosa projeção de Marx, em nome da qual se despertaram tantas paixões e se erigiram totalitarismos arrepiantes, é possível conceber que os ideais da auto-realização e da emancipação não morreram junto com os regimes do Leste e ganham vida em atores coletivos redimensionados em uma nova institucionalidade.
A busca humana de realização e de felicidade não se orienta unicamente pela superação do regime de trabalho e das relações de propriedade, como estava no anúncio de Marx. Perante a "plenitude postergada", e de seu parentesco com o império do econômico como raia única em que correm os projetos de emancipação social, garantias se perderam e motivações se ampliaram, sem que o resultado seja favorável a priori. Na despedida do modelo de socialismo burocrático-autoritário e de suas promessas não-confirmadas, valorizam-se novas radicalizações sem a arrogância e a pretensão de um olhar que acha que já viu tudo.