Lado a lado no Hotel de l’Étoile, Cocteau e Desbordes escrevem as suas novidades de 1928. Desbordes revê e acrescenta páginas a J’Adore, é lido e amorosamente incendiado por Cocteau; Cocteau, esse, passa ao papel palavras do que virá a chamar-se "O Livro Branco", autobiografia sexual cortada por atrições místicas, cheia de máscaras e portas falsas. Os reconhecidos símbolos da sua futura obra já ali se alinham num cortejo anunciador de homens-cavalos, ciganos, marinheiros, espelhos onde o narciso se reflecte e vence a superfície que o mostra a envelhecer, a aproximar-se da morte. São personagens e objectos, dirá ele, que ao correrem para a sua verdade o arrastavam até à mentira; são o coração e os sentidos a formarem uma tal mistura, que lhe parece difícil comprometer aquele ou estes sem o resto ir atrás.
Ficção / Literatura Estrangeira