O manuscrito de Saragoça

Oficial do exército francês, o autor encontrava-se no sítio de Saragoça.
Alguns dias antes da tomada da cidade, tendo avançado para um lugar um tanto retirado, percebeu uma casinha muito bem construída, que pensou não ter sido ainda visitada por nenhum francês.
Teve s curiosidade de entrar.
Bateu na porta, mas viu que não estava fechada.
Empurrou-a e entrou.
Chamou, procurou, e não encontrou ninguém.
Pareceu-lhe já terem levado tudo de algum valor, só restavam nas mesas e móveis, objetos de pouca importância.
Só viu no chão a um canto, vários cadernos de papel, escritos.
Deu uma olhada no que continham.
Era um manuscrito espanhol, ele mal conhecia a língua, mas, não obstante, sabia o bastante para perceber que aquele livro poderia ser divertido: falava-se de bandoleiros, de almas do outro mundo, de cabalistas e nada melhor para o distrair dos cansaços do que a leitura de um romance fantástico.
Persuadido de que o livro não voltaria às mãos do seu legímo dono, não hesitou em apropriar-se dele.
Logo depois, foram obrigados a deixar Saragoça.
Achando-se por azar, afastado do corpo principal do exército, foi preso, com seu destacamento, pelos inimigos, pensou estar liquidado.
Chegados ao local em que os levaram, os espanhóis começaram a despojá-los dos seus pertences.
Pediu para conservar só um objeto que não lhes poderia ser útil, o livro que encontrara.
A princípio, puseram dificuldades.
Finalmente, pediram a opinião do capitão, que, dando uma olhada ao livro, foi a ele e lhe agradeceu por ter conservado intacta uma obra à qual ele dava grande importância por conter a história de um dos seus ancestrais.
Contou-lhe como lhe havia caído nas mãos, levou-o com ele e durante a estada, um pouco longa, na sua casa, onde foi bem tratado, pediu-o para traduzir-lhe aquela obra para o francês. Escreveu-a então sob o seu ditado.