«ESCRITOR INGLÊS DESAPARECE DEIXANDO UMA CARTA MISTERIOSA.» —Diário de Lisboa, 28 de Setembro de 1930
Neste caso, as notícias do desaparecimento do «mago» Aleister Crowley foram de facto exageradas. Mas além de O Mistério da Boca do Inferno se ter espalhado pela imprensa, divertiu muito Fernando Pessoa, que participou nesta farsa modernista pré-fake news. Foi ele que relatou literariamente os contornos desta verdadeira investigação policial, ao mesmo tempo que conduziu o embuste que lhe deu origem.
Nesta edição bilingue, que é ela própria um demorado e paciente trabalho de detective sobre um dos mais fascinantes mistérios da literatura portuguesa, encontramos Fernando Pessoa em correspondência e em contacto com aquele que foi considerado «o homem mais perverso do mundo», o «Master of Darkness» em título: Aleister Crowley, que terá vindo até Lisboa só para conhecer o poeta, e cuja personalidade já inspirou muitos artistas da cultura pop, como David Bowie, The Beatles ou Mick Jagger.
«AGORA QUE O MEU CORPO FOI ENCONTRADO, SINTO-ME MAIS TRANQUILO.» Aleister Crowley
«Deixemos em aberto se preferimos a realidade à ficção ou se, pelo contrário, tendemos ao inverso. Mas, mesmo que não possamos ou queiramos decidirnos por uma delas, mantémse como facto inquestionável que, no final do Verão de 1930, se encontraram em Lisboa dois homens que, não obstante todas as diferenças de carácter que os separavam, partilhavam um sentido de humor semelhante e aos quais dava um gozo imenso atenuar ocasionalmente a rigidez da vida diária com um ou outro mistério, inventado ou real, passível de ser esclarecido de forma racional ou inacessível a qualquer esforço de dedução lógica. Tanto Fernando Pessoa como Aleister Crowley se entusiasmaram com o Mistério da Boca do Inferno e se divertiram a manipular a opinião pública. E é precisamente como tal que este acontecimento histórico deve ser interpretado - como uma imaculada ironia. Quanto ao resto, não temos dúvidas de que, futuramente, a verdade continuará a manifestarse nas suas mais diversas versões.»
Steffen Dix, Apresentação
Literatura Estrangeira