"Espero-a tão sem segredos que a vejo através de mim. E tão delgado, que a luz me atravessa, não tem sombra meu corpo, e a minha sombra, menos minha do que dela atravessando-me a luz, recorta a amada no chão."
. Octávio Mora (Ausência Viva, 1958)
O outro reúne três contos de autores clássicos que falam a respeito da sombra. Em A sombra e o brilho, de Jack London, a rivalidade entre Paul e Lloyd protagoniza uma `batalha sobrenatural` em que seus experimentos científicos disputam, numa luta de morte, o privilégio da invisibilidade: `E então sombra e brilho se encontraram, e muitos foram os sons de golpes, embora eu não pudesse vê-los.`
A sombra, de Andersen, leva quase à revolta o leitor que acompanha, impotente, a trajetória do jovem sábio subjugado por sua prória sombra: `Você está proibido de dizer que um dia já foi gente`, disse a Sombra. `E também, uma vez por ano, quando eu me sentar na sacada, em dia de sol, você vai ficar a meus pés, como convém a uma sombra.`
Markheim, de Stevenson, vive intenso conflito interior no cenário mesmo do crime que acabara de cometer, e `... terrores brutais, semelhantes ao rumor de ratos num porão abandonado, ricocheteavam nos recantos mais secretos de seu cérebro.` Seus olhos `...pareciam ver a sombra de alguma coisa sem nome, desaparecendo.` A `coisa sem nome`, ou `sua sombra`, `...era também como uma sombra dele mesmo`, uma presença ` o outro.