A autora desvenda os meandros da composição do livro O evangelho segundo Jesus Cristo, de José Saramago, mostrando como uma história arquiconhecida - pois trata-se de uma paródia dos evangelhos bíblicos - consegue causar tanto impacto em leitores e críticos. Saramago escreve um evangelho contrário aos outros quatro canônicos, humanizando a figura de Cristo e fundamentando sua escrita em personagens milenarmente rejeitado pela teologia, como Madalena e o Diabo. O quinto evangelista, pois constrói uma doutrina em que os homens, frágeis criaturas, são os únicos verdadeiros deuses, neste sentido (des)evangelho. A autora defende a ideia de que se existe uma heresia saramaguiana a heresia é esta: o ateu convicto escreve um evangelho radicalmente humanista, não mais in nomine dei, mas in nomine hominis. O homem no (des)evangelho de Saramago é a única boa nova a ser anunciada.