Ombros Hereges

Ombros Hereges Mariana Pio


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Ombros Hereges





Abro essa carta/livro. Me deixo levar. Leio em uma “correspondência” – a cadência do que em seguida se torna em seu movimento: livro-poema. Me deparo, logo na entrada, com esse M. – com o M. que assina a correspondência e cria traço para que a leitura caminhe. Destaco – da letra à palavra – o que se escreve, o que cai ao solo, o que se move e poliniza fértil com o vento, o que pulsa tempo – como sangue: “o prelúdio trovoa vermelho e anuncia água”. Da metáfora ancestral – “essa coisa que arde e é líquida” – que crava a terra – o calor de uma mulher, a transmissão milenar dos saberes de uma mulher – a transmissão dos orixás – que conta e não conta com o conhecimento. Adentramos aqui as franjas do amor. Como que em um continuum, é possível ler: da mulher, na mulher, pela mulher – sem pausa, no entanto em ritmo preciso, o amor. Uma circularidade – não há ponto de separação: da palavra, na palavra, pela palavra. Está sempre em ponto de heresia. Os ombros hereges – revelam simultaneamente – o que há de mais visível para se expor da libertação histórica de uma mulher – escorrendo – para a singular marca erigida, herética do que a poesia de M. mostra na semi-luz, no lusco-fusco. Há uma vertigem, a fortaleza crescente de um lugar que se insinua como vento anterior ao ventre da Mãe e dele germinado. O corpo-palavra de M. percorre, em nós leitores, dois tempos: no primeiro, a correspondência – no segundo, o poema. Dois tempos indivisíveis, indissociáveis: a correspondência é poesia penetrante e anuncia: “simultâneas existimos nessa terra e assim nos entranhamos.” O livro atravessa, em sua pulsação de versos, o corpo do leitor – pungentes as palavras circulam e ecoam entre diferentes poemas – seguindo um fio de escrita. A letra arranha as retinas – e seguimos junto a essa letra-nome – que por acaso, e não por acaso, me levam a essa mulher, a uma mulher, à letra da mulher – que inscreveu sua escrita na terra, na escavação da pele que recobre e aproxima os ombros descobertos – da força que se transmite. Letra e nome próprios. Próprios e prontos para atingirem e atravessarem outras línguas – outros corpos – abertos à leitura e dispostos ao amor.

Poemas, poesias

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on 7/3/21


Herege é aquele que mantém opiniões e ideias contrárias aquelas admitidas. O ombro é uma articulação complexa e que possui funções essenciais que nos permitem centralizar a cabeça, potencializar e estabilizar articulações, além de ajudar na nutrição articular. No mais, a combinação dessas palavras, ombros hereges, suscitou-me uma incógnita necessária, um peso a carregar, heresias a cometer. Obviamente, por saber que se trata de poesia feminina, o meu desejo de efetuar essa leitura j... leia mais

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Charlene.Ximenes
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