Os textos e ilustrações que se seguem propõem-se a comentar e mostrar certos aspectos do culto aos orixás, deuses iorubas, em seus lugares de origem, na África (Nigéria, ex-Daomé e Togo), e no Novo Mundo (Antilhas e Brasil), para onde foram levados, em séculos passados, pelos escravos. Em obras precedentes, já abordamos este tema, juntamente com o culto dos vodun, deus dos Fon, nessas mesmas regiões. Naquela época, 1953, nossas pesquisas e publicações foramorientadas no sentido América – África, pois durante os nossos primeiros sete anos de pesquisas, tínhamos vivido cinco anos do Brasil e nas Antilhas e passado apenas dois anos na África. Com o tempo a situação se inverte. Durante os vinte e sete anos que decorreram desde a redação de nossas primeiras obras, passamos quinze anos na África e só oito no Brasil e nas Antilhas, em períodos alternados e interrompidos por quatro anos na Europa. Nossas pesquisas orientaram-se exclusivamente para os cultos nagôs (iorubas), aqueles que melhor se conservaram na Bahia, nosso local de residência no Brasil. Este novo livro será, pois, orientado no sentido oposto ao seguido anteriormente. Nosso ponto de partida estará situado na África, de onde partiremos para as Américas seguindo a diáspora dos iorubas. A presença dessas religiões africanas no Novo Mundo é uma conseqüência imprevista do tráfico de escravos. Escravos estes que foram trazidos para os diferentes países das Américas e das Antilhas, provenientes de regiões da África escalonadas de maneira descontínua, ao longo da costa ocidental, entre Senegâmbia e Angola. Provenientes, também, da costa oriental de Moçambique e da Ilha de São Lourenço, nome dado nessa época a Madagascar. Disso resultou, no Novo Mundo, uma multidão de cativos que não falava a mesma língua, possuindo hábitos de vida diferentes e religiões distintas. Em comum, não tinham senão a infelicidade de estar, todos eles, reduzidos à escravidão, longe das suas terras de origem. Desde muito cedo, ainda no século XVI, constata-se na Bahia a presença de negros bantu, que deixaram a sua influência no vocabulário brasileiro. Em seguida, verifica-se a chegada de numeroso contingente de africanos provenientes de regiões habitadas pelos daomeanos (gêges) e pelos iorubas (nagôs), cujos rituais de adoração aos deusas parecem ter servido de modelo às etnias já instaladas na Bahia.
Literatura Estrangeira