O romance Os ásperos tempos é o primeiro volume da trilogia Os subterrâneos da liberdade. O livro narra a instauração do regime ditatorial do Estado Novo, imposto em 1937 por Getúlio Vargas, desde os seus preparativos. São Paulo e seus escritórios, seus salões da alta sociedade, seus espaços operários e aparelhos clandestinos são os principais cenários da narrativa. A casa do banqueiro Costa Vale é um centro de decisões políticas mais importante que o gabinete do presidente. Este é visto por seus opositores como um fantoche da burguesia e das potências estrangeiras. As demais forças políticas não são menos comprometidas: o integralismo é uma paródia do nazi-fascismo, os trotskistas são igualados aos agentes da polícia, e a política trabalhista de Vargas é um meio de enganar os operários, abrindo caminho para o surgimento de falsos líderes sindicais. O engajamento do romance adota um teor realista que pretende ensinar sobre a história brasileira e incitar à tomada de posição. Os movimentos de resistência ganham destaque, como um foco de guerrilha camponesa que leva à revolta dos índios pataxós no sul da Bahia. Acompanha-se também a passagem de Apolinário, um membro do Partido Comunista, pelo Uruguai, onde o militante encontra apoio. E a jovem Mariana, integrante do partido, vive devotada à causa dos companheiros. Apesar do forte conteúdo político, a estrutura narrativa sobressai, pois aproveita o formato de folhetim para descrever negociatas, paixões, adultérios, casamentos arranjados e perseguições policiais, preservando a habilidade narrativa característica de Jorge Amado. A combinação entre arte e política de Os ásperos tempos foi decisiva para a experiência ficcional do autor.
Ficção / Literatura Brasileira / Romance