Otelo foi representado em Londres pela primeira vez em 1604, há quatrocentos e dez anos! Dificilmente terá ocorrido um ano em que esta peça, em algum lugar do mundo, não tenha sido representada. No Brasil, segundo exaustiva pesquisa de Celuta Gomes e Thereza Aguiar, a primeira exibição de Otelo de que se tem registro ocorreu em 1837, com a direção de João Caetano, que também fez o papel de Otelo. Desde então, até nossos dias, ainda segundo as duas pesquisadoras, esta tragédia é oferecida ao público brasileiro praticamente cada ano. Mas não nos fartamos de Shakespeare? Que ingrediente secreto haverá em suas obras que nos leva a vê-las ou lê-las mais de uma vez, embora saibamos perfeitamente como será o fim? Em geral, dificilmente lemos um romance ou vemos um filme pela segunda vez, raras vezes pela terceira. Em seu antológico Shakespeare no Brasil (1961), Eugênio Gomes cita o caso de um cidadão inglês, Gordon Crosse, que, no decurso de trinta e quatro anos, assistiu a todas as trinta e sete peças reconhecidas como do cânone shakespeariano na primeira metade do século XX. Assistiu a Hamlet por vinte e nove vezes! A outras peças, assistiu cinco, seis, dez vezes! Foi ao teatro ver Shakespeare, em Londres, por mais de quinhentas vezes , conforme pormenorizado registro que fez na obra que publicou em 1953, Shakespearean Playgoing.
Drama / Ficção / Literatura Estrangeira / Romance