Papirofobia

Ele não conseguiu esquecer seu oitavo aniversário. Foi um dia muito triste. Pediu um tênis de corrida e ganhou dois livros. Não gostou. E chorou tanto que quase se afogou nas próprias lágrimas. Desde pequeno Leopoldo só ganhava livros. Primeiro, foram os macios. Depois vieram aqueles com grandes desenhos e poucas palavras. Mais tarde foi o contrário. Muitas palavras e poucos desenhos. Agora ele só enxergava uma estante repleta de livros.

Os pais diziam que ler era uma das coisas mais importantes da vida. A família de seu melhor amigo não parecia nem um pouco apaixonada pela leitura e ainda assim era feliz. Os livros não serviam para fazer as pessoas felizes? Aliás, para que serviam? Resolveu fugir de casa. E como todos os meninos que tomam a mesma decisão, não tinha a menor idéia de onde ir. Pegou um ônibus e desceu junto com os últimos passageiros em uma grande praça. Foi então que esbarrou naquele senhor de bengala e óculos escuros que gostava de conversar e contar histórias. Leopoldo ainda não sabia mas aquele encontro mudaria a sua vida para sempre.