Pescoço Ladeado por Parafusos

Quem gosta de narrativas fantásticas, não-lineares e sobretudo não-convencionais irá se deliciar com Pescoço ladeado de parafusos, obra de Manoel Carlos Karan, escritor catarinense que não é novato, mas ainda assim pouco conhecido.



A princípio, o leitor pode julgar que lhe faltam referências para entender do que se trata a obra. Como reunir os acontecimentos que se sucedem em capítulos independentes, cada qual explorando sua temática e intercalando-se sob os títulos de “Jornal da guerra contra os taedos”, “Projeto de bestiário” ou “Anotações sobre os números” com o que parece ser o fio condutor da história, um narrador preocupado com a escolha do nome, do sobrenome, do rosto?



Mas não. Essa narrativa de múltiplas facetas é assim mesmo e, depois do susto das trinta páginas iniciais, já é possível se divertir e começar a rir com o humor inteligente do autor e com a forma genial com que tudo começa a fazer sentido: em “Anotações sobre os números”, surge uma referência sobre os taedos, que “eram atrasadíssimos, só conheceram os números há pouco tempo”. Ou, no capítulo 10 (daquele texto que deve ser o fio condutor), depara-se com um parênteses esclarecedor: “(Um bestiário sem nome, identificado por um número – 1 –, mostrava a maioria das bestas da imaginação dos taedos com a boca de traços irregulares por culpa do cachimbo.)”. Assim, aos poucos, cada um de seus temas vai se enlaçando, e descobre-se que, na realidade, tudo o que se lê é uma coisa só.