Cerebral e retraído, Fernando Pessoa concebeu o projeto de se ocultar na criação literária, fingindo indivíduos independentes dele - os heterônimos. Pessoa é o poeta dos heterônimos - o poeta que se desmultiplica ou despersonaliza na figura de inúmeros heterônimos e semi-heterônimos. Álvaro de Campos, um dos seus mais célebres heterônimos, nasceu em 1890, em Tavira (Portugal), e é engenheiro de profissão. Conheceu Alberto Caeiro (outro heterônimo de Pessoa) numa visita ao Ribatejo e tornou-se seu discípulo. O volume "Poesia" (1913-1935) de Fernando Pessoa/Álvaro de Campos é um dos mais altos momentos da poesia universal. Pessoa foi muitos homens ao mesmo tempo: moderno e clássico, nacionalista-místico e revolucionário, materialista e panteísta, por vezes com um humor frio e perturbador.