Polemos

Segundo o autor: "Este livro é dedicado à memória de Machado de Assis, nosso maior escritor, cuja descrição humorística do Humanitismo no Quincas Borba representa a primeira contribuição brasileira importante à crítica filosófica do darwinismo. É também dedicado ao professor Edward Wilson, de Harvard, fundador da nova ciência da sociobiologia. Wilson, que bem conhece o Brasil e que muitos consideram o maior biólogo vivo, é um entomólogo que se dedicou ao estudo das formigas e dos insetos sociais em geral, extrapolando daí para a sociologia e para a defesa da biodiversidade. Tive o prazer de conhecê-lo, há alguns anos, em Boston, onde, em seu gabinete na própria universidade, mantém um laboratório de pesquisa do formigueiro com o qual convive. Sua autobiografia é extremamente interessante como exemplo da dedicação obsessiva de um cientista à sua obra. Na verdade, este livro é uma modesta tentativa de contrariar a tese de Wilson, conclusão lógica da aludida obsessão, segundo a qual a moral, o sentimento de “altruísmo” ou, em outras palavras, a ética se pode e deve sustentar sobre premissas materialistas. Como verão, não sendo um especialista em formigas e cupins, salvo como adversário das duas espécies predatórias que constantemente agridem meus livros e meu jardim, em Brasília, julgo-me no entanto com direito à crítica na base de um princípio de reciprocidade.
Do mesmo modo como Wilson parte da biologia para invadir os sagrados recintos socráticos do pensamento filosófico e sociológico, considero-me com direito à réplica. Após muito haver lido Darwin e livros sobre a teoria da evolução pelo mecanismo cego da diferenciação, hereditariedade e seleção natural — o acaso e a necessidade na fórmula sucinta de outro grande biólogo, inspirado no grego Demócrito permito-me apresentar as objeções de um leigo que se vale, igualmente, do trabalho de filósofos, sir Karl Popper por exemplo."