Trecho da obra:
"- ‘ xa ver. Não canta glória. Não canta glória. Tu então pra piolho tens o sangue doce. Nessa cabeça, vejo um reino. Duvida? Duvidando? Quanto perde? Quem gostava de te catar era a finada Lucíola, ah, mas eu te conto, aquela finada Lucíola! Ela que te inventou colo. Colo, colo, toda hora colo. Uma noite, viu que a lua deu no teu cueiro pendurado na corda do aterrinho do quintal e logo acudiu: D. Amélia, essa criança vai obrar verde, deu a lua no cueirinho dele aqui na corda, D. Amélia. Não deixe cueirinho dele na corda em tempo de lua. E pois não foi que te pegou e te abriu bem a bundinha pra a banda da lua? Só assim te protegia de obrar verde. Mas, Lucíola se alguém, Deus me perdoe, pegou lua, foste tu, rapariga. De tudo isso quem acredita,eu? E da tua unha? Essa foi a boa da mea prima Dorotéia. Lá em Muaná. “Olha, Amélia, só quem deve primeiro-primeiro cortar a unha, a primeira unha do teu filho, é a madrinha, senão quando teu filho crescer vira ladrão. E tua madrinha lá em Belém. Eu ia esperar até que te pudesse levar em Belém pra te cortar tua unha? Até que tempo a tua unha crescendo? Viraste ladrão?"
***
“Sétimo volume de uma série, Ponte do Galo é um romance do escritor Dalcídio Jurandir,que está escrevendo a saga de uma região que as estradas começam a cortar, mas que permanece quase virgem na literatura brasileira. As obras anteriores de Dalcídio merecem elogios de gente que entende de bem escrever, Heráclio Sales, Jorge Amado, Nelson Werneck Sodré, Adonias Filho e Antonio Olinto, entre outros. E Ponte do Galo está pintando forte para ser o ganhador do Prêmio Machado de Assis deste ano, da Academia Brasileira de Letras, o que recomenda ainda mais a sua leitura. Dalcídio Jurandir escreve simples e sem rebuscamentos. Mas seus livros dão uma idéia exata de um mundo que começa para lá do Tocantins e que os cariocas precisam conhecer, ao menos por leitura.”
- Jornal O Globo de 1971.
Literatura Brasileira / Romance