No Brasil, temos uma psicologia social fortemente engajada com os movimentos sociais, o que a aproximaria de uma psicologia social sociológica, mas que privilegia os aspectos da psiquê individual na explicação dos fenômenos sociais, o que a coloca muito mais próxima de uma psicologia social psicológica. Além disso, em nosso país, esse debate se centrou noutra falsa dicotomia; entre metodologias e procedimentos quantitativos versus metodologias e procedimentos qualitativos. Nesta visão, a psicologia social realmente engajada só faria uso dos últimos, uma vez que estes não implicariam um 'assujeitamento' dos atores sociais, dos discursos e narrativas que os constituem, à moldes, formatações ou escalonamentos que essencializariam, naturalizariam e mesmo legitimariam as construções sociais. No outro extremo, mas ainda no campo da metodolatria, estariam aqueles que defendem a quantificação e consideram as pesquisas qualitativas como frouxas metodologicamente e sem validade. Com o interesse de superação dessa dicotomia simplista e engessadora da psicologia social no Brasil, propusemos, no encontro da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia (ANPEPP) de 2006, a formação de um grupo de trabalho que aglutinasse psicólogos sociais de diversas tradições teórico-metodológicas. Foi assim que surgiu o projeto de um livro texto que pudesse integrar ou tensionar diversas abordagens possíveis em psicologia social, considerando tanto as contribuições da psicologia social psicológica quanto as da psicologia social sociológica, e acrescentando a essas duas vertentes a necessária interface com as outras ciências sociais e o panorama de pesquisa de cada um dos temas abordados no contexto da realidade brasileira. O compromisso foi o de construir um Manual de Psicologia Social que traçasse um panorama teórico e metodológico daquilo que se tem produzido em nível mundial sobre temas fundamentais da área psicossocial e, ao mesmo tempo, contextualizasse cada tópico abordado na realidade brasileira. Consideramos que o manual que ora apresentamos cumpre suficientemente bem essa missão. O livro está estruturado em 12 capítulos, nos quais são apresentadas as principais teorias sobre a construção social da realidade, e são discutidos e ilustrados empiricamente os principais temas da psicologia social atual.
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